importancia da história oral para os africanos
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A História Oral é uma metodologia muito usada em pesquisas históricas e sociológicas. Surgida como forma de valorização das memórias e recordações de indivíduos, é um método de recolhimento de informações através de entrevistas com pessoas que vivenciaram algum fato ocorrido. A “Tradição oral” é a preservação de histórias, lendas, usos e costumes através da fala. Segundo o autor J. Ki-Zerbo, a tradição oral na África “aparece como repertório e o vetor do capital de criações sócio-culturais acumuladas pelos povos ditos sem escrita; um verdadeiro museu vivo”(1), ou seja, própria das classes iletradas, a tradição oral tem sido, contudo, muito valorizada pelos eruditos que se dedicam ao seu estudo e compilação (os contos dos Irmãos Grimm, por exemplo, ou até mesmo a obra de Chinua Achebe), ao considerarem que é na tradição oral que se fundamenta a identidade cultural mais profunda de um povo. A África leva seu “folclore” dentro desta tradição, que também é visto como fonte rica para a tradição oral. Se pensarmos nas inúmeras versões que existe das lendas, contos e histórias de tribos em toda a região, pode-se concluir que o quanto chega a ser importante a oralidade na historicidade do ser humano e até mesmo antropologicamente falando. A oralidade é a transmissão oral dos conhecimentos armazenados na memória humana. Antes do surgimento da escrita, todos os conhecimentos eram transmitidos oralmente. A memória auditiva e visual eram os únicos recursos de que dispunham as culturas orais para o armazenamento e a transmissão do conhecimento às futuras gerações, realizadas através de relatos de vida na África, que eram realizados pelos anciões dados como os mais sábios, devido a sua experiência de vida que traz o conhecimento acumulado. Assim é apontado por Ki-Zerbo como os anciões sendo “guardiões são os velhos de cabelo brancos, voz cansada e memória um pouco obscura, rotulados às vezes de teimosos e meticulosos (...)”(2), em outras palavras, trata-se de uma cultura que valoriza seus idosos dando-lhes uma função das mais respeitadas, no qual também é retratado na obra de Achebe, quando este descreve os rituais e as decisões do conselho sobre as questões do cotidiano da vida popular. “A tradição oral é a fonte histórica mais intima, mais suculenta e melhor nutrida pela seiva da autenticidade”(3) , pois esta não carece ser comprovada já que se trata de uma época na qual a palavras valia mais que qualquer valor econômico para a sociedade. Realizando uma distinção entre as tecnologias da inteligência, que dizem ser o futuro do pensamento na era da informática, ocorre uma distinção entre a oralidade primária, onde a palavra, por ser o único canal de informação, é responsável pela gestão da memória social; e a oralidade secundária em que a palavra (falada) tem uma função complementar à da escrita (e posteriormente à dos meios eletrônicos), sendo utilizada basicamente para a comunicação cotidiana entre as pessoas, fato muito ocorrido na região africana no qual em muitas culturas, a identidade do grupo estava sob guarda de contadores de histórias, cantores e outros tipos de arautos, que na prática eram autenticamente os portadores da memória da comunidade, sem que seja dada para comprovação. Esta é passada de mãe para filho como aponta Ki-Zerbo sob as palavras “a alegria da mãe sundiata, transtornada pela cura súbita de seu filho, ecoa ainda no timbre épico e quente dos griots (nota do próprio autor como sendo os animadores públicos) do Mali”(4) , ou seja, este é o caso do papel desempenhado na África Ocidental por um grupo social, chamado de Griot, sendo o relato mais famoso, o dos feitos do rei Sundiata Keita, soberano do Império Mali, apontado por Ki-Zerbo em seu texto. Na questão da autenticidade do relato, já que nossa cultura ocidental necessita desta, Ki-Zerbo “costuma-se dizer que a tradição não inspira confiança porque ela é funcional”(5) em estruturas sociais tradicionais, como famílias extensas e aldeias, os anciãos assumem papéis de conselheiros e transmissores da cultura local além de poderem assumir funções judiciais e rituais, através desse tipo de autoridade que é a patriarcal, impondo suas decisões por persuasão, como relata a expressão “quanto mais se está em posição de autoridade, menos se fala em público. Mas quando se diz a alguém: Você comeu o sapo e jogou a cabeça fora, a pessoa compreende que está sendo acusada de se furtar a uma parte da responsabilidades”(6). Pode-se usar este relato para criar um parâmetro com o romance de Achebe, que descreve um ritual, deste de julgamento, no qual se tem oito pessoas mas apenas uma fala, após ouvir os dois lados da moeda e dar seu julgamento, através dessa língua dada por Ki-Zerbo como “morada do ser” . Logo, fica claro que algumas religiões prezam a figura venerável do ancião, mas as culturas africanas levam essa relação ao extremo.
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