Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder, trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos, como uma pela* que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos. Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder, esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da Fazenda, a ruína do País! Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses do País. Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se, para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros liberais, e os interesses do País! Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de té- dio — a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País. Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País... Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas vota- ções mais hostis... Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa constitucional do poder moderador... E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai, feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto** tão triunfante! (*) Pela: bola. (**) Chouto: trote miúdo. (Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)
Considere as frases com relação ao que se afirma na crônica de Eça de Queirós:
I. Os que estão no poder não querem sair e os que não estão querem entrar.
II. Quando um partido ético está no poder, tudo fica melhor.
III. Os governantes são bons e éticos, mas vivem a trocar acusações infundadas.
IV. Os políticos que estão fora do poder julgam-se os melhores eticamente para governar.
As frases que representam a opinião do cronista estão contidas apenas em:
I e III.
I, II e III.
II, III e IV.
I e IV.
I e II.
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Ao lermos a crônica de Eça de Queirós, conseguimos identificar que a alternativa que apresenta a opinião do cronista é a letra C ( I e IV ).
Ao avaliarmos as frases, vemos que duas das frases não representam corretamente a opinião do autor, são elas: II e III.
A frase II, apresenta um erro em relação a opinião do autor, pois ao lermos o texto não vemos nenhuma parte que confirma a existência de um "partido ético" que seja verdadeiro. Ao contrário, o autor ressalta que todos se igualam.
Na frase 3, percebemos o erro pois o autor atribui as características bons e éticos aos governantes. Ao contrário fala que são redundantes e se equivalem.
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Resposta:
letra C
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