gente, qual o foco narrativo do romance "A Pata da Gazela"???
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O Foco Narrativo
A Pata da Gazela narra em terceira pessoa, um romance vivido na alta roda carioca, repetindo a velha fórmula do triângulo amoroso.
Nesta obra, o narrador é uma presença constante, descrevendo-nos o ambiente onde a ação se passa, apresentando-nos os personagens cujas idéias e sentimentos nos desnuda, introduzindo-nos enfim, como leitores, no universo representado pelo romance. Tais intromissões do narrador na obra garantem a esta um caráter familiar e moralista, principalmente se observarmos que o narrador se aproveita disto para teorizar a respeito da natureza dos sentimentos humanos, para criticar costumes da época, para pormenorizar hábitos dos salões, cariocas do século passado, etc.
Amélia, a heroína que preenche todas as qualidades acima citadas, é disputada por dois apaixonados: Horácio e Leopoldo, que representam os dois pólos do mundo romântico: Horácio é o “leão”, rei dos salões, o homem preocupado com a própria elegância, volúvel destroçador de corações femininos. Entediado com a vida, uma vez que o número e a diversidade das conquistas amorosas o desinteressaram de novas aventuras galantes, apaixona-se pela misteriosa portadora de um mimoso pezinho, tão minúsculo como a botina que ele encontrou na rua. Leopoldo, sonhador, pálido e macilento, descuidado no trajar, virgem de amores femininos e magoado pela recente morte da irmã, apaixona-se à primeira vista pela dona do sorriso entrevisto numa carruagem parada na Rua da Quitanda.
O romance ganha suspense, pois o narrador oculta a identidade da dona da botina, retarda o final da história e complica seu desenlace, pois a dona da botina e do sorriso são a mesma pessoa, Amélia, que acaba por preferir Leopoldo, cujo amor é sincero e desinteressado.
O leitor treinado na leitura deste tipo de romance antecipa seu final. Isso de modo nenhum diminui o valor da obra, uma vez que o final feliz e a conseqüente premiação da virtude e o castigo do vício são típicos dos romances românticos.
Horácio, por exemplo, é tratado sem nenhuma complacência pelo narrador: seu dom-juanismo, sua figura de janota, a vacuidade de sua vida são ironizados a cada passo. Talvez aí se possa ver a atitude romântica de despeito pelo indivíduo acomodado ao status quo da época, sem a auréola de marginalização e inferiorização que atrai as simpatias do narrador para Leopoldo. Assim, a oposição entre os dois rivais não é gratuita: é a forma de o romancista valorizar, através da figura de Leopoldo, os atributos indispensáveis ao herói romântico. Já entre as figuras femininas da obra a oposição de caracteres não é assim tão marcada: tanto Laura como Amélia são jovens, belas e ricas. Por que, então, a presença de ambas? Para haver possibilidade de suspense, para que Horácio se divida entre elas na busca de sua Cinderela, e para que sua busca termine na cena grotesca de ele beijar os pés deformados de Laura.
Enquanto Horácio enceta a busca dos pés que calcem a minúscula botina que ele idolatra no altar de sua casa, Leopoldo entrevê um pé defeituoso subir à carruagem de sua eleita. Mais tarde, vendo o lacaio desta retirar no sapateiro uma botina disforme feita de encomenda, convence-se de que sua amada é aleijada. Dividido entre a atração do sorriso e a repulsa pelo pé, Leopoldo luta consigo mesmo durante dias, até que finalmente percebe que o defeito de Amélia não é empecilho para sua adoração. Seu comportamento é, pois, tipicamente romântico: o amor é o encontro de almas, e detalhes físicos não empanam a sublimidade de tal sentimento.
- Espero que eu tenha lhe ajudado.