Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dous meios de granjear a vontade das mulheres: o violento, como o touro de Europa, e o insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que, por estarem fora da moda, aí ficam trocados no cavalo e no asno [...] Afirmo-lhes que o asno foi digno do corcel, – um asno, de Sancho, deveras filósofo, que me levou à casa dela, no fim do citado período; apeei-me, bati-lhe na anca e mandei-o pastar.
Nas aulas, você estudou os conceitos de antítese e metáfora. Responda, sobre o texto:
a) O narrador estabelece uma antítese entre duas metáforas. Quais são elas?
b) Escreva uma interpretação dessas metáforas antitéticas.
Soluções para a tarefa
A - As metáforas são o cavalgar de um asno e de um corcel, que representam duas formas radicalmente diferentes de se portar com relação a uma mesma coisa.
B - O cavalgar de um asno, que é lento e constante, representa o cortejo paciente, constante e sem exageros da mulher amada, enquanto que cavalgar de um corcel, impetuoso e ágil é e o cortejo apaixonado, cheio de demonstrações de afeto e carinho.
Uma antítese, vale lembrar, é a negação de uma tese, ou seja, estabelecer uma teoria que se coloca frontalmente contra outra.
Resposta:
a) “Corcel cego do desejo” e “asno da paciência”.
b) Com essas metáforas o narrador quer dizer que empreendeu a conquista de Marcela, ou seja, o percurso até o coração dela, lenta e progressivamente, com paciência e perseverança, como se estivesse montado em um asno; ele poderia ter tentado essa conquista com a pressa e a afoiteza de um corcel (cavalo veloz, usado em batalhas), comandado pelos impulsos do desejo.
(Gabarito do Plurall)