g-Em que são utilizadas as plumas?
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Resposta:
O material é usado de diversas formas: em estado natural ou transformando suas características originais com cortes, deformações, desfiamentos e tingimentos. Também não raro as penas são usadas em associação com outros materiais, como couros e peles, ossos, sementes, garras de animais, fibras diversas.
O estudo da arte plumária vem recebendo recentemente considerável atenção dos pesquisadores, já havendo diversas publicações para tratar do tema, mas ainda existe certa controvérsia em sua categorização. Júlio Melatti propôs a divisão em duas categorias principais: os objetos emplumados e as penas coladas diretamente ao corpo.[9] De acordo com Dorta & Van Velthem, seriam três categorias maiores: a primeira fazendo uso de penas longas associadas a suportes rígidos, dando um aspecto grandioso e monumental ao artefato, destacando-se os grandes toucados ou cocares. Neste grupo estão incluídos os Bororo, Karajá, Tapirapé, Kayapó, Tiriyó, Aparai e Wai-Wai, entre outros. O segundo emprega penas diminutas fixas em suportes flexíveis, com um aspecto delicado, incluindo braçadeiras, tangas, cintos, colares, pulseiras, tornozeleiras, protetores penianos, etc. Seus mais típicos representantes são os Munduruku, os Urubu-Kaapor e outros grupos Tupi. Ainda alguns grupos comporiam um terceiro estilo, com elementos das duas grandes divisões.[10] Já Darcy e Bertha Ribeiro consideram como digna do estatuto de arte plumária apenas aquela em que fica evidente o trabalho da imaginação, da sensibilidade e de uma artesania requintada. Só assim o objeto poderia adquirir autonomia como arte, tornando-se capaz de suscitar uma resposta estética no observador através "da harmonia da forma, da felicidade na combinação cromática e, ainda, por uma consistência táctil suave e atrativa", ultrapassando o valor plástico das plumas em si. Ficariam, pois, excluídas as formas que simplesmente agregam ao corpo e outros objetos um material em estado bruto ou pouco trabalhado.[8] E outros ainda, como Els Lagrou e Maria Castilho Costa, questionam a atribuição do nome de arte para essa expressão, já que o conceito corrente de arte é uma importação europeia que não encontra paralelo nas atividades das comunidades indígenas.
Tradicionalmente a confecção de objetos plumários é uma tarefa dos homens adultos, e suas técnicas são aprendidas depois dos ritos de iniciação. A manufatura envolve várias atividades preliminares: caça das aves ou retirada das penas de aves cativas, seleção e classificação, preparo do material e coleta e preparação de materiais acessórios.[13] Grande parte da arte plumária participa da natureza da tecelagem, pois a fixação das penas é feita através de amarração e trançamento de fibras. Outras formas fixam as penas diretamente ao corpo através de resinas e colas, como fazem os Kayapó e Yanomami, que usam a plumagem fina e branca dos urubus-rei colada diretamente no cabelo, ou por um sistema de perfurações corporais (piercing). Outros objetos também podem ser adornados com penas, como armas, objetos litúrgicos, distintivos de guerra, brinquedos infantis, bolsas e instrumentos musicais e de trabalho.[10][13] O material é usado de diversas formas: em estado natural ou transformando suas características originais com cortes, deformações, desfiamentos e tingimentos. Também não raro as penas são usadas em associação com outros materiais, como couros e peles, ossos, sementes, garras de animais, fibras diversas.
Embora alguns artefatos emplumados possam ser usados cotidianamente, os mais elaborados e importantes se destinam às grandes festividades.[14] É, pois, uma arte de caráter cenográfico, usada em ritos públicos onde participam integradamente outras formas de expressão, como o canto, a declamação, a narrativa teatralizada e a dança, e transfigurando a aparência de quem a usa de uma forma mágica e teatral.[15] A pesquisadora Lux Vidal deu eloquente depoimento sobre as formas de uso da arte plumária na Festa do Tatu, um ritual Kayapó-Xikrím, tratando dos aspectos recém mencionados:
"Importante é também ver que não é só a pintura, não é só a plumária, mas tem também os cantos, as danças, os gestos e especialmente a palha.... Os Jês são as sociedades da palha... usada não só em contraste de cores, mas também nesse desfiamento amarelo; quando depois eles se movimentam, eles dançam, essa coisa se mexe, se move, é extremamente leve e faz contraste com o preto e com o vermelho, e também o verde e o azul da máscara. Isso é de uma beleza extraordinária.... (Importa) realmente todo o momento, acompanhado da dança e do canto, essas coisas que se movimentam e formam esse todo especial. E são coisas extremamente efêmeras, não são coisas que duram. A palha é jogada fora, a penugem depois é guardada e reutilizada de uma outra forma, mas são coisas transitórias. O momento de beleza certo do ritual, quantas coisas aconteceram! Isto que é o belo".
A arte plumária é uma arte tradicional, ou seja, tem origem popular e pertence à grande categoria do folclore, pois segue padrões culturais herdados ao longo das gerações, mais ou menos fixos e distintivos de cada grupo étnico ou social que a produz, mas não descarta a contribuição individual na introdução de variações.