Fale sobre o Neoliberalismo no governo atual.
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Resposta:
Desde que se manifestou, na década de 1970, o neoliberalismo propõe uma desregulamentação estatal para deixar fluir os lucros do capital financeiro e capturar fundo público. Contudo, a tal “desregulamentação” requer algum nível de regulamentação do laissez-faire, com protagonismo do Estado, e inviabiliza uma sociedade efetivamente participativa, que seja capaz de atuar nas bases do funcionamento social.
Por exemplo, a presença estatal no neoliberalismo do governo Ronald Reagan, nos EUA, é notória: aliviou impostos para os ricaços bem como para o big business monopolizado, achatou salários, desregulamentou as finanças (legalizando e estimulando, por exemplo, o mecanismo ultra especulativo da recompra de ações), turbinou a dívida pública para financiar a corrida armamentista antissoviética, aproveitando-se da abrupta elevação dos juros perpetrada pelo Federal Reserve System (FED), o seu Banco Central, que tem o papel de definir e regular medidas monetárias do país.
Já o atual governo federal apresenta uma face não apenas pró-sistêmica, mas ultrassistêmica, ao praticar um neoliberalismo extremado, na esteira do programa econômico do golpe de 2016 (“Ponte Para o Futuro”), e transita, com desenvoltura, na “política tradicional” (não obstante toda a retórica da “antipolítica”), o que permite ao Presidente cometer crimes de responsabilidade, afastando (pelo menos, até aqui, começo de agosto de 2021) a ameaça de um processo de impeachment, diante do “apoio” do tal Centrão.
Ao mesmo tempo, o Chefe do Poder Executivo Federal esculhamba, tenciona e ataca a arquitetura institucional da chamada “Nova República” e, até onde possível, vai desmantelando políticas, práticas, instituições. Logo, esse projeto comporta, de fato, um viés “antissistema”, exercitado até onde dá. O “passar a boiada”, proclamado pelo Ministro do Meio Ambiente, é método de governança, e não apenas uma frase de efeito.1 E esse método de governança não envolve apenas o expediente neoliberal clássico das desregulamentações econômicas, realizado ao redor do mundo capitalista, com presença e atuação estatal, desde a década de 1970. Tal expediente catalisou o predomínio financeiro-rentista do capital, com efeitos socioeconômicos devastadores, no bojo de um “regime de acumulação flexível”, caracterizado pela flexibilização nos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, das mercadorias e padrões de consumo em um contexto de emergência da crise estrutural do capitalismo (Cf. HARVEY, 1992).
Assim, ao articular plataforma de governo, ativismo virtual, agentes bolsonaristas (e setores que o apoiam), é possível constatar que o expediente das desregulamentações é parte constitutiva de uma política deliberada, que contém sobrecargas políticas, ideológicas, impulsionadas por sobrecamadas afetivas de ódio destrutivo. Preferencialmente, o objeto de destruição é tudo o que remeta a um imaginário de “esquerda”, “comunismo”, “marxismo”, “paulofreireanismo” etc. E haja imaginário, quando até o STF, a Rede Globo e o PSDB são assim rotulados! Conforme o próprio Presidente da República proclamou em um evento nos EUA com a presença de expoentes da extrema-direita norte-americana: “o Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa".