Fale sobre o conflito atual no Afeganistão
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Após serem afastados do poder pela invasão dos Estados Unidos em 2001, o Talibã voltou ao poder do Afeganistão agora em meados de agosto. O retorno ocorre após uma série de acontecimentos relevantes: um acordo em 2020 com os EUA, a fuga do então então presidente do país, Ashraf Ghani, para os Emirados Árabes Unidos e a ofensiva do Talibã para tomar a capital, Cabul.
Antes do mais recente acontecimento no conflito, a Guerra do Afeganistão deixou cerca de 171 mil mortos. Entre as vítimas fatais estão mais de 47 mil civis. O custo financeiro também foi elevado, os Estados Unidos gastaram US$ 2,26 trilhões em suas operações no Afeganistão e também no vizinho Paquistão. Esta cifra não inclui os gastos que os EUA são obrigados a ter de maneira vitalícia com os veteranos do conflito. Os dados são da Universidade de Brown, do projeto “Custos da Guerra”.
Além da invasão estadunidense, tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estiveram no país de 2003 até 2014. Países como Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Polônia, Portugal e Espanha contribuíram com militares para a guerra, seja por meio da OTAN ou por esforços independentes.
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Talibã quer dizer “estudante” em afegão. O grupo surgiu entre os mujahidin, combatentes islâmicos, que enfrentaram a invasão da União Soviética ao Afeganistão, de 1979 até 1989. Nesse período, os mujahidin, espécie de embrião do Talibã, receberam apoio financeiro e logístico dos Estados Unidos. Veja a linha do tempo detalhada abaixo:
Direitos das mulheres
Após sair vencedor da guerra civil que expulsou os soviéticos, o Talibã governou o Afeganistão de 1996 até 2001. Nesse período, houve a aplicação de uma interpretação radical do Islã. Mulheres eram obrigadas a usar burca, impedidas de estudar e trabalhar, e só podiam estar na rua acompanhadas de um homem de sua família.
De acordo com a ONG Human Rights Watch, o "Ministério da Aplicação da Virtude e Supressão do Vício" foi um dos braços do governo mais poderosos nesse período e era responsável por aplicar as regras de comportamento do Talibã. Tocar música e assistir televisão eram atividades proibidas.
Em 2021, o grupo afirma publicamente que mulheres poderão trabalhar e estudar de acordo com as leis da Sharia, espécie de direito islâmico.
"A questão das mulheres é muito importante. O Emirado Islâmico está comprometido com os direitos das mulheres dentro das regras da Sharia. Nossas irmãs, nossos homens têm os mesmos direitos. Elas poderão se beneficiar de seus direitos. Eles podem ter atividades em diferentes setores e diferentes áreas com base em nossas regras e regulamentos: educação, saúde e outras áreas. Elas trabalharão conosco, ombro a ombro conosco. A comunidade internacional, se ela tiver preocupações, gostaríamos de lhes garantir que não haverá discriminação contra as mulheres, mas é claro dentro das estruturas que temos. Nossas mulheres são muçulmanas. Eles também ficarão felizes em viver dentro de nossas regras da Sharia", afirmou Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, em coletiva de imprensa após a tomada de Cabul.
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Mulheres afegãs que trabalharam nos últimos 20 anos fizeram protestos no país e pedem que o Talibã as incluam no governo, de acordo com o site de notícias afegão Tolo News. O Brasil de Fato falou também com a pesquisadora indiana Nivi Manchanda, especialista em Afeganistão. Veja abaixo:
A volta do Talibã ao poder desperta temores pelos direitos das mulheres / Infográfico: Pedro Vó
E agora?
De volta ao poder, o Talibã agora governa um Afeganistão de 38 milhões de habitantes e um PIB de US$ 19,2 bilhões, de acordo com dados do Banco Mundial. Em 2001, o país tinha 21,6 milhões de habitantes e um PIB de US$ 4 bilhões.
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O futuro do país passa pelo tabuleiro da política internacional. Após o próprio presidente dos Estados Unidos Joe Biden admitir que o ritmo do avanço do grupo extremista ocorreu mais rápido do que o previsto, a China declarou que respeita os desejos e escolhas do povo afegão e espera uma transição pacífica do Talibã.
O tema também foi tratado pelo Conselho de Segurança da ONU, onde o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, pediu “unidade” da comunidade internacional e disse existirem "relatos assustadores de severas restrições aos direitos humanos".
A Rússia, por sua vez, declarou por meio da porta-voz de sua chancelaria que o Talibã no poder "é uma realidade" e que o grupo "está demonstrando uma tendência ao diálogo e estão abertos a considerar os interesses do povo afegão, inclusive os direitos das mulheres."