Saúde, perguntado por WMF, 4 meses atrás

Fale sobre etnobiologia, etnociências, Etnocologia, povos indígenas, quilombolas e povos tradicionais no Brasil e sua relação com a agroecologia.

Soluções para a tarefa

Respondido por amimir63
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até a década de 1980, era considerada como um problema e uma ameaça para a

natureza, ou seja, algo a ser evitado independentemente das características culturais

dos grupos sociais envolvidos.

Muitas AP, no entanto, vêm sendo habitadas ancestralmente por povos tradicionais

cujos usos pré-existentes dos territórios e valores culturais nem sempre foram

considerados, resultando em processos de gestão impositivos e conflituosos frente

às necessidades e interesses das populações locais. Em diversos contextos foram

implementados mecanismos para a realocação de comunidades para fora dos limites

dessas áreas ou, alternativamente, imputadas severas restrições às suas práticas

produtivas, inviabilizando a manutenção dos modos de vida tradicionais (BELTRÁN,

2000; STEVENS, 1998).

Essa situação não representa casos pontuais ou excepcionalidades, uma vez que

se estima que cerca de 70% das AP do mundo seja ocupada ou utilizada regularmente

por povos tradicionais, uma proporção que na América Latina pode alcançar 80%

(DOWIE, 2011). Por esse motivo, apesar da importância das AP para a conservação

da natureza, a existência de muitas áreas tem sido contestada por grupos sociais

que vivem em seu entorno e criticada por seus impactos negativos sobre populações

locais (BENSUSAN, 2014; DUDLEY et al., 2014; IRVING, 2010).

Além disso, a gestão dessas áreas tem sido pautada historicamente, por

conhecimentos técnico-científicos oriundos principalmente das denominadas Ciências

Naturais. Critérios em grande parte racionalistas, economicistas e utilitaristas que

contribuem para sustentar uma visão biologizada e desumanizada da natureza,

contribuindo para o fortalecimento da visão de mundo natural destituído de sua face

social (FERNANDES-PINTO, 2017).

Nas últimas décadas, no entanto, novas perspectivas em políticas públicas têm

sido construídas contemplando a noção de interdependência entre cultura e natureza,

notadamente com relação à garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas e

outros grupos tradicionais e a valorização de seus conhecimentos nas estratégias de

conservação – como nos artigos 8j e 10c da CDB (1992) e na Declaração Universal

dos Direitos dos Povos Indígenas (2007).

Nesse contexto, a compreensão e o reconhecimento da ligação profunda

existente entre determinados grupos humanos e a natureza vêm sendo enfatizados

como uma questão fundamental para que se possa evitar ou superar os conflitos entre

os esforços governamentais de conservação e as necessidades e os interesses das

populações locais. Perspectivas mais inclusivas do papel da sociedade na gestão das

áreas protegidas vêm sendo denominadas de um novo paradigma de conservação da

natureza (PHILLIPS, 2003), refletindo na proposição de políticas públicas que buscam

valorizar uma leitura integrada da diversidade biocultural – um conceito mais holístico,

dinâmico e integrador (MAFFI & WOODLEY, 2010).

No Brasil – um país que conjuga uma das maiores riquezas biológicas do mundo

a uma expressiva pluralidade sociocultural – essas questões ainda se traduzem

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