Fale sobre a obra de arte Divisor
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Comentário Crítico
Na década de 1950, Lygia Pape estuda com Fayga Ostrower (1920-2001), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, onde entra em contato com Hélio Oiticica (1937-1980), Aluísio Carvão (1920-2001), Décio Vieira (1922-1988), entre outros, com os quais integra o Grupo Frente, em 1954. Dedica-se à xilogravura e realiza, entre 1955 e 1959, Tecelares, série de obras abstrato-geométricas, nas quais usa formas muito simplificadas e explora a textura e os veios característicos da madeira, utilizados como valores gravados preexistentes.
Em 1958, idealiza, com Reinaldo Jardim, o Balé Neoconcreto I, no qual o espaço cênico é preenchido por figuras em forma de cilindro e paralelepípedo, com bailarinos em seu interior, que se deslocam em um palco negro. Em 1959, é uma das signatárias do Manifesto Neoconcreto. No mesmo ano, realiza o Livro da Criação, composto por 118 unidades de várias formas e cores, que devem ser manuseadas pelo leitor. O título alude à criação do mundo e à postura criativa do participante. Nesse período, acentua-se a participação do público em seu trabalho. Em Ovo (1967), cubos de madeira são envolvidos em papel ou plástico colorido, muito fino, que deve ser rompido pelas pessoas, para que tenham a sensação de nascimento. Já em Divisor (1968), uma multidão preenche um pano de 30 por 30 metros, colocando a cabeça nas várias aberturas existentes.
Produz objetos e instalações marcados pela ironia, pelo humor negro e por críticas à situação política. Em Caixa de Formigas (1967), coloca em um recipiente de madeira enormes saúvas vivas que andam sobre um fundo com a inscrição: a gula ou a luxúria. No centro, há uma espiral e um pedaço de carne crua, o que faz com que as formigas se concentrem ali. Em Caixas de Baratas (1967), a artista agrupa em uma caixa de acrílico translúcido, com um espelho ao fundo, uma série de baratas, como se estivessem organizadas em uma coleção científica. A primeira sensação que o trabalho provoca é de aversão, pois o espectador se vê refletido junto àqueles insetos. Já a Caixa Brasil (1968) contém a palavra "Brasil", escrita em letras prateadas no fundo da tampa e em seu interior estão colocados fios de cabelos das três raças: o índio, o branco e o negro.
Em 1976, realiza exposições na Galeria de Arte Global e no MAM/RJ, denominadas Eat Me: a gula ou a luxúria?, nas quais trabalha com a imagem da mulher como objeto de consumo. Agrupa, em vitrines e saquinhos de papel, diversos objetos como calendários de mulher nua, cabelos, loções afrodisíacas, batons, maçãs, seios postiços e textos feministas (como se fosse uma contradição a este universo). Os saquinhos eram vendidos por preços populares, como uma forma de contestação ao mercado de arte. Em 1979, no trabalho Ovos de Vento ou Ar de Pulmões - Windbow, cria com sacos de plástico e bolas de borrachas uma espécie de trincheira, com efeitos de luz, cor e transparência. Para a artista, a obra, constituída por materiais frágeis, era forte enquanto idéia, como homenagem aos sandinistas. Apresentada no Hotel Meridien, no Rio de Janeiro, é denominada "Gávea de Tocaia". Lygia Pape apresenta preocupação social em vários trabalhos, como, por exemplo, em Narizes e Línguas (1995) ou Não Pise na Grana (1996). No primeiro, explora a dicotomia entre o que o olho vê ou o nariz cheira e o que o corpo sente. É uma instalação que se refere às campanhas contra a fome em todo o mundo. Propõe, em 1999, releituras sobre o Manto Tupinambá: transforma-o em uma bola antropófaga de plumas, da qual saem restos humanos e, em montagem fotográfica, coloca pairando sobre a cidade do Rio de Janeiro uma gigantesca nuvem de fumaça vermelha, como se os tupinambás reivindicassem seus direitos à terra. Em 2002, realiza a instalação Carandiru, em uma referência ao evento ocorrido em 1991. Cria uma cachoeira vermelha, cuja base, para onde o líquido escorre, tem a forma do Manto Tupinambá. Associa, desta forma, a imagem dos presos à do povo indígena dizimado.
Para o crítico inglês Guy Brett, a semente da criatividade desabrocha nos trabalhos da artista com sensibilidade e humor. Eles não foram criados para serem consumidos apressadamente, sem reflexão: o modo como são vivenciados pelo espectador é que constitui a obra. A artista não se prende aos mesmos suportes ou procedimentos, seu trabalho é sempre inovador e enfrenta inúmeras questões. Na década de 1950, o Balé Neoconcreto possibilita uma experiência pioneira: o corpo é utilizado como motor para que formas e cores se desloquem no espaço. Já em o Livro da Criação, o manuseio e principalmente a criatividade são necessários para que a obra se concretize.
Na década de 1950, Lygia Pape estuda com Fayga Ostrower (1920-2001), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, onde entra em contato com Hélio Oiticica (1937-1980), Aluísio Carvão (1920-2001), Décio Vieira (1922-1988), entre outros, com os quais integra o Grupo Frente, em 1954. Dedica-se à xilogravura e realiza, entre 1955 e 1959, Tecelares, série de obras abstrato-geométricas, nas quais usa formas muito simplificadas e explora a textura e os veios característicos da madeira, utilizados como valores gravados preexistentes.
Em 1958, idealiza, com Reinaldo Jardim, o Balé Neoconcreto I, no qual o espaço cênico é preenchido por figuras em forma de cilindro e paralelepípedo, com bailarinos em seu interior, que se deslocam em um palco negro. Em 1959, é uma das signatárias do Manifesto Neoconcreto. No mesmo ano, realiza o Livro da Criação, composto por 118 unidades de várias formas e cores, que devem ser manuseadas pelo leitor. O título alude à criação do mundo e à postura criativa do participante. Nesse período, acentua-se a participação do público em seu trabalho. Em Ovo (1967), cubos de madeira são envolvidos em papel ou plástico colorido, muito fino, que deve ser rompido pelas pessoas, para que tenham a sensação de nascimento. Já em Divisor (1968), uma multidão preenche um pano de 30 por 30 metros, colocando a cabeça nas várias aberturas existentes.
Produz objetos e instalações marcados pela ironia, pelo humor negro e por críticas à situação política. Em Caixa de Formigas (1967), coloca em um recipiente de madeira enormes saúvas vivas que andam sobre um fundo com a inscrição: a gula ou a luxúria. No centro, há uma espiral e um pedaço de carne crua, o que faz com que as formigas se concentrem ali. Em Caixas de Baratas (1967), a artista agrupa em uma caixa de acrílico translúcido, com um espelho ao fundo, uma série de baratas, como se estivessem organizadas em uma coleção científica. A primeira sensação que o trabalho provoca é de aversão, pois o espectador se vê refletido junto àqueles insetos. Já a Caixa Brasil (1968) contém a palavra "Brasil", escrita em letras prateadas no fundo da tampa e em seu interior estão colocados fios de cabelos das três raças: o índio, o branco e o negro.
Em 1976, realiza exposições na Galeria de Arte Global e no MAM/RJ, denominadas Eat Me: a gula ou a luxúria?, nas quais trabalha com a imagem da mulher como objeto de consumo. Agrupa, em vitrines e saquinhos de papel, diversos objetos como calendários de mulher nua, cabelos, loções afrodisíacas, batons, maçãs, seios postiços e textos feministas (como se fosse uma contradição a este universo). Os saquinhos eram vendidos por preços populares, como uma forma de contestação ao mercado de arte. Em 1979, no trabalho Ovos de Vento ou Ar de Pulmões - Windbow, cria com sacos de plástico e bolas de borrachas uma espécie de trincheira, com efeitos de luz, cor e transparência. Para a artista, a obra, constituída por materiais frágeis, era forte enquanto idéia, como homenagem aos sandinistas. Apresentada no Hotel Meridien, no Rio de Janeiro, é denominada "Gávea de Tocaia". Lygia Pape apresenta preocupação social em vários trabalhos, como, por exemplo, em Narizes e Línguas (1995) ou Não Pise na Grana (1996). No primeiro, explora a dicotomia entre o que o olho vê ou o nariz cheira e o que o corpo sente. É uma instalação que se refere às campanhas contra a fome em todo o mundo. Propõe, em 1999, releituras sobre o Manto Tupinambá: transforma-o em uma bola antropófaga de plumas, da qual saem restos humanos e, em montagem fotográfica, coloca pairando sobre a cidade do Rio de Janeiro uma gigantesca nuvem de fumaça vermelha, como se os tupinambás reivindicassem seus direitos à terra. Em 2002, realiza a instalação Carandiru, em uma referência ao evento ocorrido em 1991. Cria uma cachoeira vermelha, cuja base, para onde o líquido escorre, tem a forma do Manto Tupinambá. Associa, desta forma, a imagem dos presos à do povo indígena dizimado.
Para o crítico inglês Guy Brett, a semente da criatividade desabrocha nos trabalhos da artista com sensibilidade e humor. Eles não foram criados para serem consumidos apressadamente, sem reflexão: o modo como são vivenciados pelo espectador é que constitui a obra. A artista não se prende aos mesmos suportes ou procedimentos, seu trabalho é sempre inovador e enfrenta inúmeras questões. Na década de 1950, o Balé Neoconcreto possibilita uma experiência pioneira: o corpo é utilizado como motor para que formas e cores se desloquem no espaço. Já em o Livro da Criação, o manuseio e principalmente a criatividade são necessários para que a obra se concretize.
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