Fale a respeito das causas que ocasionam os deslocamentos internos sem países da América Latina?
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Resumo
As trajetórias migratórias conformam uma forma de “pegada” histórica da sociedade,
através da qual se revela espacialmente a ordem que a sociedade seguiu para seu
processo de produção e “reprodução” econômica e social. O modo como se dá a
articulação entre esses fatores econômicos e sociais e essas trajetórias migratórias, em
um contexto histórico particular, constitui o padrão migratório. Sob esta premissa, este
estudo tem como propósito fundamental verificar se existe, de fato, um padrão da
migração interna no caso colombiano; busca-se avaliar o comportamento da migração
interna como parte das transformações econômicas, produtivas e sociais que a Colômbia
experimentou no período, configuradas em situações de conflito político e armado.
Para alcançar este propósito, são analisados os microdados censitários demográficos
referentes a 1993 e 2005, fornecidos pelo Departamento Administrativo Nacional de
Estatística - DANE; e o Registro Único de População Deslocada da Rede Nacional de
Informação sobre as Vítimas do Conflito Armado - RUPD-RNI, da Colômbia, disponível
para o período 1985-2014. O conceito que se adota como migrante refere-se ao
indivíduo que residia, há cinco anos, em um município diferente do município de
recenseamento, independente de seu local de nascimento, e que sobrevive à
mortalidade e a reemigração. No caso do deslocamento forçado, consideram-se os
eventos acumulados anualmente, independentemente se foram experimentados por uma
mesma pessoa, ou se aconteceram dentro ou fora dos limites municipais.
A análise dos dados e a aplicação de técnicas de estimação de migração e de análise
multivariada permitiram detectar, de um lado, regularidades espaciais que surgem das
trocas migratórias no espaço e, de outro, que no padrão de migração interna colombiano
se articulam e sobrepõem dois sistemas de trajetórias migratórias, marcadamente
seletivos. O primeiro sistema corresponde às trajetórias migratórias de ordem
intrarregional, derivadas do parcimonioso processo de industrialização, iniciado no
século XIX e consolidado na segunda metade do século XX, e que configuram as
principais cidades capitais e suas áreas de aglomeração metropolitana. Neste sistema
predominam as trajetórias migratórias interurbanas, mas articuladas ainda com áreas
tradicionais de expulsão, que sustentam, ainda, fluxos de origem rural. Um segundo
sistema migratório se origina nas áreas historicamente excluídas dos trajetos da
industrialização, onde recentemente tem sido expandida a fronteira agrícola para o
agronegócio e para a exploração de petróleo. Nessas áreas, configuram-se condições
para a produção e comercialização de negócios ilícitos com os quais as populações
camponesas se encontram articuladas ou rejeitadas de diversas formas. Esse processo
acaba sustentando as correntes migratórias de origem rural para dois tipos de periferias:
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aquelas circundantes às áreas urbanas consolidadas, e aquelas que formam os
corredores marginais nas áreas de fronteira internacional.
As diversas trajetórias migratórias, dominantes e secundárias, que se configuram nos
dois sistemas migratórios, reproduzem os fatores estruturais de inequidade espacial
presentes na geografia colombiana, e, a partir deles, a seletividade para a migração. Por
exemplo, os fluxos que se originam nas áreas urbanas são dominados por adultos mais
educados, mas os que emergem das áreas rurais para as fronteiras, por jovens adultos
com baixa escolaridade. Nos primeiros sobressaem as mulheres e nos segundos a
participação masculina é maior.
O arcabouço teórico das migrações, derivadas da macroeconomia neoclássica, com o
Modelo de Equilíbrio, e da escola estruturalista, com o Modelo Centro Periferia e a Teoria
dos Sistemas Mundiais, sustenta, de forma fragmentada os diferentes momentos
históricos da evolução do padrão migratório do caso colombiano, particularmente para a
segunda metade do século XX. Para este novo século, precisam ser incorporados
marcos analíticos que considerem, além da dimensão econômica, fatores de ordem
político e social que contribuam para a melhor compreensão das dinâmicas de expulsão
em condição forçada, dentro e além dos limites nacionais.
As mudanças do padrão migratório entre o final do século XX e começos do século XXI
caracterizam-se pela diminuição do volume da migração interna de caráter voluntário e,
em contrapartida, pelo aumento dos deslocamentos de caráter forçado, internos e
internacionais, mas que não são captados nos censos demográficos. Entre os dois
períodos se acentuaram as maiores distâncias entre origens e destinos e surgem novas
áreas de influência migratória que acabam complementando os raios de ação para todos
os sistemas migratórios e a consolidação dos sistemas de trocas migratórias
intrarregionais, dominadas por mulheres e por jovens adultos.