Faça uma resenha crítica, uma análise interpretativa de no mínimo 15 linhas do conto o relógio de ouro de Machado de Assis
Sua resposta
Enviar
Soluções para a tarefa
Explicação:
Nas primeiras linhas do conto já podemos observar alterações
significativas. A primeira delas é a criação de um novo parágrafo que
deixa de existir na versão em livro. Como sabemos, os escritores de
periódicos ganhavam por linhas escritas (RIBEIRO, 2006), portanto é
muito comum encontrarmos nos contos dos jornais uma quantidade
muito maior de parágrafos do que verificamos nos livros.
Em seguida, os adjetivos escolhidos para descrever o relógio são,
sem dúvida, mais modestos e concisos na segunda versão. A inclusão
do vocábulo “cadeia” também remete à questão escravista que é tocada
levemente na primeira versão e que foi incorporada com mais força na
versão em livro.
Vejamos outros exemplos de alterações:QUADRO 3
Jornal das Famílias Histórias da meia-noite
Pouco depois saía o pai de Clarinha
protestando de novo que, se no dia
seguinte os achasse do mesmo, nunca
mais voltaria à casa deles, e que se
havia coisa pior que um jantar frio ou
requentado, era um jantar mal digerido.
Outras muitas coisas mais disse o
sogro de Luís Negreiros, mas como
não interessam à história, deixo-as de
referir nesta ocasião.
Pouco depois saía o pai de Clarinha
protestando de novo que, se no
dia seguinte os achasse do mesmo
modo, nunca mais voltaria à casa
deles, e que se havia coisa pior que
um jantar frio ou requentado, era
um jantar mal digerido. Este axioma
valia o de Boileau, mas ninguém lhe
prestou atenção.
É notável a concisão na citação do trecho da obra Le lutrin, de
Boileau, na Tabela 2. Na segunda versão, temos acesso somente à metade
do verso e ainda modificado pelo escritor, movimento característico nas
citações que Machado fazia e pelo qual foi muito criticado pelos seus
contemporâneos (MADEIRA, 2004: 66).
Os textos das Tabelas 2 e 3, embora não imediatamente subsequentes,
são ligados pela retomada da citação de Boileau, agora nomeadamente
expresso, na versão em livro. Na primeira versão, o nome de Boileau
não é citado, ou seja, quem não conhecesse o verso do Le Lutrin não
seria capaz de entender a atribuição de autoria. E quem foi Boileau e por
que isso é importante? Por que citar explicitamente um autor apenas na
versão em livro e não no Jornal da Famílias?
Machado tinha grande apreço por Boileau e pelos poetas satíricos
em geral. O trecho citado acima está no canto XX do Le Lutrin, poema
herói-cômico composto entre 1674 e 1683 que serviu de inspiração
para António Dinis de Cruz e Souza compor O hissope (publicado
postumamente em 1802), outra obra admirada e emulada por Machado.
Na Advertência ao poema herói-cômico “O Almada”, Machado afirma
que se inspirou nesses dois autores; nessas “duas