Faça uma resenha critica do livro "A Escravidão " do capítulo 5 ao
Soluções para a tarefa
RESENHA CRITICA:
A não ser que você esteja vivendo numa caverna, já deve ter ouvido falar do novo livro, ou melhor, da nova trilogia, de Laurentino "1808, 1822, 1889" Gomes. É um projeto de ordem de grandeza muito maior que os anteriores. Para começo de conversa, o autor visitou pessoalmente diversas cidades e ilhas africanas relacionadas ao assunto, o que envolve muito tempo e dinheiro.
Muita gente criticou o autor, dizendo que ele se rendeu ao politicamente correto. Discordo disso; pelo texto, vejo que ele andou perto desse abismo, mas como disse o velhote do filme Wall Street, teve caráter suficiente para não pular no abismo, procurando ser simplesmente correto. Alguns revisionismos PC são citados e até servem de alívio cômico — por exemplo, a alegação do ativista gay Luís Mott que Zumbi teria o apelido de "Sueca", por efeminado.
Os motivos pelos quais a escravidão lança sombra até hoje sobre os brasileiros, principalmente sobre os de pele escura, já tinham sido bem explorados por literatura mais antiga, como o clássico livro de Caio Prado Jr.
O Laurentino vai numa direção um pouco diferente: sua tese central é que a escravidão de africanos foi "o principal" fato histórico do Brasil; não apenas "um dos principais". Para corroborar a tese, Laurentino Gomes procura demonstrar que o processo de escravização foi trágico, mas também grandioso.
As ilhas de São Tomé e Príncipe foram o laboratório onde os portugueses fizeram a inédita combinação de mão-de-obra escrava e agricultura em larga escala. Além de aperfeiçoar a cadeia da escravidão, as ilhas foram palco de um enorme experimento biológico, onde animais e vegetais de todos os continentes foram cultivados, selecionados e aclimatados aos trópicos.
Os resultados desse trabalho colocam, até hoje, muita comida na nossa mesa: banana, feijão, inhame, cana-de-açúcar e seus derivados, cacau, etc. Até para a mãe-África sobrou alguma coisa: a mandioca foi aclimatada daqui para lá, tornando-se importantíssima fonte de calorias por lá nos séculos seguintes ao descobrimento.
Estas e outras observações encontráveis no livro permitem enxergar a questão da "dívida histórica" por um ângulo diferente.
Desde os abolicionistas, a questão é colocada como um copo meio-vazio: tem uns negros por aí, sem cultura, sem profissão, que alguém trouxe da África há séculos atrás para viabilizar um sistema econômico latifundiário e ineficiente. Ainda que não sejam culpados disso, sua presença nos lembra diuturnamente que o Brasil começou errado e continua dando errado.
E agora eu, descendente de imigrantes que também foram trazidos para servir ao senhor da terra num primeiro momento (ééé!), nascido numa geração que não tem nada com isso, tenho de resgatar essa dívida?! Fora que pagar dívidas é, por si só, psicologicamente estressante, não interessa quão valioso ou querido tenha sido o bem financiado.
Esta é a visão do copo meio vazio. Mas há subsídios para enxergar o copo meio-cheio.
O negro trabalhou as culturas que hoje nos alimentam; viabilizou com seu trabalho o Brasil-colônia; junto com o índio, ajudou por vias transversas a manter a nossa integridade territorial. Do pouquíssimo que se permitiu ao negro trazer da sua cultura, é de onde sai o que temos de culturalmente original, como é fácil constatar na música. São trabalhos que valem trilhões e uma sala cheia de prêmios Nobel.
Para uma dívida ser reconhecível, é preciso haver um credor, um devedor e um benefício palpável para o devedor. (Por exemplo, nenhum analista sério joga a culpa da crise de 2008 em quem financiou imóveis que não podia pagar; resta claro que os devedores foram ludibriados por outros atores econômicos, induzidos a comprar algo que não valia o preço.)