faça uma crônica de 7 linha par mim pfv
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Furto de flor, Carlos Drummond de Andrade
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim. Nem apelar para o médico das flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que idéia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
Um dos nomes mais célebres da literatura nacional, Carlos Drummond de Andrade (1902 — 1987) é lembrado principalmente pela sua poesia atemporal. Contudo, o autor também escreveu grandes textos em prosa, como aquele apresentamos acima.
A famosa crônica foi publicada na obra Contos Plausíveis (1985) e parte de uma ação simples, um episódio do cotidiano que acaba suscitando reflexões e sentimentos profundos.
Num gesto espontâneo, o homem colhe uma flor do jardim. Nos dias seguintes, ele acompanha o seu processo de decomposição, sendo levado a pensar sobre a passagem do tempo, a fragilidade e efemeridade da vida.