ENEM, perguntado por delimaamanda844, 5 meses atrás

faça uma crítica ao poema " Ode ao burguês " de Mário de Andrade. urgente! ! ! !​

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Respondido por aninha7816
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Ode ao Burguês é o nono poema da obra Paulicéia desvairada, de Mário de Andrade. Foi lido durante a Semana de Arte Moderna de 1922, para o espanto da platéia, alvo evidente dos versos:

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,

o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo!

O homem-curva! O homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,

é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Em Ode ao Burguês, Mário de Andrade atacou as elites retrógradas. O poema caracteriza uma fase do Modernismo marcada pelo empenho na destruição de um passado literário, político e cultural que mantinha a sociedade brasileira atada a modelos e comportamentos que vigoraram em fins do século XIX.

No contexto revolucionário do modernismo, o termo “burguês” tem um campo semântico bem caracterizado. Com ele designa-se geralmente o inimigo, ou seja, o indivíduo que, indiferente às propostas de modernização estética e social, permanece preso ao passado. O próprio de seu comportamento é isolar-se do mundo por não querer se sujar. Insensível aos clamores da vida, o burguês refugia-se numa redoma asséptica e ali permanece, contemplando narcisicamente o próprio umbigo – “satisfeito de si”. Note-se quanto essa imagem evoca-nos a repleção, a auto-suficiência do personagem que Mário de Andrade desanca neste poema intitulado, significativamente, Ode ao burguês (Ódio ao burguês).

A atmosfera de tédio, monotonia e pobreza espiritual, frequentemente acompanhada pela denúncia social, chegou a um ataque agressivo à mentalidade pequeno-burguesa, em Ode ao burguês:

Eu insulto o burguês-funesto!

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!

Fora os que algarismam os amanhãs!

Olha a vida dos nossos setembros!

Fará Sol? Choverá? Arlequinal!

Mas à chuva dos rosais

O êxtase fará sempre Sol!

(“Ode ao burguês”)

O universo do poeta opõe-se, radicalmente, ao conforto, luxo e opulência do mundo burguês; seu espaço está fora das quatro paredes, sua moradia é a rua, onde, no meio da massa amorfa, coloca-se ao lado dos desprotegidos, pobres e humildes.

A sátira em Ode ao burguês é coerente na medida em que seu alvo é o outro; é o burguês rico, ignorante, preocupado com o dinheiro, com as aparências e sem fé cristã. Não se pode, então, ver a crítica, a sátira dos modernistas em Ode ao burguês como caracterizadora de uma postura antiburguesa, uma vez que as

idéias desses modernistas não se chocavam com o burguês intelectualizado, ela se restringia ao burguês urbano e não ao burguês rural

O poema na íntegra:

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel

o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo!

O homem-curva! O homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,

é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!

Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!

Que vivem dentro de muros sem pulos,

e gemem sangue de alguns mil-réis fracos

para dizerem que as filhas da senhora falam o francês

e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!

Fora os que algarismam os amanhãs!

Olha a vida dos nossos setembros!

Fará sol? Choverá? Arlequinal!

Mas as chuvas dos rosais

O êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!

Morte às adiposidades cerebrais!

Morte ao burguês-mensal!

Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiuguiri!

Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!

_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?

_ Um colar… _ Conto e quinhentos!!!

_ Más nós morremos de fome!

Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!

Oh! Purée de batatas morais!

Oh! Cabelos na ventas! Oh! Carecas!

Ódio aos temperamentos regulares!

Ódio aos relógios musculares! Morte á infâmia!

Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados

Ódios aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,

sempiternamente as mesmices convencionais!

De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!

Dois a dois! Primeira posição! Marcha!

Todos para a central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!

Morte ao burguês de giolhos,

cheirando religião e que não crê em Deus!

Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!

Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!…

Notas:

Mário de Andrade goza os burgueses, que ampliam suas barrigas à proporção que murcham o cérebro. A rebeldia social encontra correspondência estilística: em lugar de adjetivos são usados substantivos com função adjetiva (“homem-curva”, “homem-nádegas”). O Futurismo preconizava o abandono do adjetivo e da pontuação regular.

Em profundo desabafo pessoal, o poeta denuncia a mesquinhez, o pão – durismo dos imigrantes bem – sucedidos.

Atendendo à técnica do verso harmônico, proposta no “Prefácio Interessantíssimo”, Mário de Andrade joga com a rima em diferentes posições, no mesmo verso ou em versos seguidos, daí as assonâncias alcançadas em zurros – muros – pulos.

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