faça uma comparação do lazer em detrimento do trabalho
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Explicação:
Introdução
O lazer tem sido reconhecido como um fenômeno de grande relevância para a emancipação humana e cidadania, figurando fortemente como estratégia da promoção da saúde. Apesar disto, nos campos da Saúde Coletiva e Saúde Pública, embora essas importâncias sejam frequentemente destacadas, é evidente como esse fenômeno é explorado de forma superficial, carecendo de reflexão crítica. Ainda predominam abordagens que o tratam como um direito e uma necessidade fundamental da humanidade que se explica por si só, sem que sejam resgatadas as tensões históricas que envolvem sua concepção e sua conquista.
É isto o que nos indica um levantamento junto à base de dados do SciELO (Scientific Electronic Library Online), realizado com o intuito de compreender como o lazer é tratado nestes campos. Numa busca pelo assunto promoção de/da saúde, após serem localizados 95 estudos e identificados quais mencionavam o lazer (inclusive como sinônimo de recreação/atividades recreativas), constatamos sua presença em 22 deles (23,16%). Numa análise mais detalhada destes trabalhos, mediante técnicas de análise de conteúdo1, observamos que apenas Peres et al.2 discutiram este fenômeno, contudo, sem que tenham procedido a aprofundamentos e anunciado avanços teóricos e práticos para a área.
Nos demais trabalhos, a menção ao lazer não foi além de sua mera inserção no texto, sendo ele ou simplesmente apontado como uma necessidade à saúde3-9 e à qualidade de vida10,11, sem nenhuma discussão sobre a questão, ou, pior que isso, retratado como possibilidade para se vivenciar atividades que privilegiam aos conteúdos físicos12-23, revelando a influência dos pressupostos teóricos do funcionalismo.
Um pensamento que, ao desconsiderar os conflitos e contradições da sociedade, contribui com a manutenção do status quo, e, dessa forma, conforme entendimento de Awofeso24, não acompanha os fundamentos da promoção da saúde, afinal não possibilita o enfrentamento do crescente quadro de pobreza e exclusão social, reconhecidamente um dos agravantes da saúde pública mundial. Tendência esta também observada no campo da educação física (área que se dedica a estudar o lazer e que o tem como um dos principais conteúdos), no qual predominam as concepções de saúde com forte viés positivista e médico-higienista25,26. A associação do lazer com a promoção da saúde é restrita a uma forma de ocupação ativa do corpo no tempo do não-trabalho (lazer ativo), tendo como decorrência a despolitização de ambos conceitos; a responsabilização dos sujeitos pelo alcance do lazer e da saúde e a perpetuação do paradoxo do lazer brasileiro: enquanto poucos podem desfrutar suas diferentes possibilidades, uma grande maioria da população é obrigada, no máximo, a se contentar com um lazer precário e, por isso, na base do improviso.
Diante do exposto e considerando que na educação física brasileira proliferam desde o início dos anos oitenta diferentes concepções que discutem a superação do discurso do lazer funcionalista, mas que tais formulações ainda são praticamente desconhecidas da Saúde Coletiva e Saúde Pública brasileiras, a partir de revisão bibliográfica sobre o desenvolvimento do campo do lazer no país, buscando reflexões conjunta aos pressupostos da promoção da saúde, este trabalho tem como objetivo apresentar concepções críticas e alternativas do lazer em sua relação com a saúde, fundamentando-se numa proposta político-pedagógica denominada lazerania27.
Sobre a promoção da saúde
A concepção moderna de promoção da saúde perpassa a compreensão que se tem do processo saúde-doença, revelando que o mesmo, além de não ser dicotômico em si, ainda extrapola os limites do campo estritamente sanitário. Incorporando um enfoque político e técnico em torno do processo saúde-doença, pode ser interpretada como uma reação à acentuada medicalização da vida social e como uma resposta setorial articuladora de recursos técnicos e posições ideológicas, substituindo a visão limitada da ausência de doença pela visão da erradicação de suas