Faça uma análise fonética e fonologia dos falantes do Norte do Brasil.
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Sempre surgem críticas referentes ao modo nordestino de pronunciar as vogais e e o de sílabas átonas. O famoso gramático Napoleão Mendes chegou a dizer que tais vogais em sílabas átonas devem ser proferidas de maneira fechada, como de fato é a pronúncia dos moradores do Sudeste e do Sul do Brasil. Algumas pessoas chegam ao ponto de asseverar que a pronúncia nordestina, além de ser feia, é também errada. A questão é tão séria, que alguns nordestinos, quando vão a São Paulo ou a outros lugares daquelas regiões supramencionadas, ficam receosos de abrir a boca para que não passem por constrangimentos. Ora, de uma vez por todas, constitui erro pronunciar abertamente as vogais e e o quando fazem parte de sílabas átonas? Como exemplos, cito algumas palavras: PErnambuco, rEvElação, REcife, prOgrEssivo etc. Nesses exemplos, o E e O foram escritos com maiúscula para dizer que são prolatados de forma aberta.
Espero vossa abalizada opinião, que agradeço desde já
Paulo Aimoré Oliveira Barros Servidor federal Garanhuns, Brasil 5K
Infelizmente, «o famoso gramático Napoleão Mendes» deve ter saltado a leitura de um ainda mais famoso estudioso da língua, Antenor Nascentes, que já em 1958, quando iniciou a organização do primeiro mapa dialetológico brasileiro, apontava para duas grandes áreas dialetológicas no Brasil que se fazem representar pela execução dos fonemas /e/ e /o/ em posição pretônica. No Norte, essas vogais soam abertas, e no sul, fechadas. A título informativo, Castilho, 2010, clarifica o que se entende como Norte e Sul do Brasil em termos de fala e ratifica, cinco décadas depois, as afirmações de Nascentes sobre a pronúncia das vogais átonas pretônicas. «O falar do Norte compreende dois subfalares, o amazônico e o nordestino. O falar do Sul compreende quatro subfalares: o baiano, o mineiro, o fluminense e o sulista.»
Há, porém, uma observação que me parece necessária quando se trata de dialetologia, ou seja, do estudo das variedades geográficas de uma língua. Por um lado, a língua, como fato social, é passível de distinções conforme os grupos de falantes observados, por outro lado, por mais que cada grupo assevere que é o seu modo de falar o mais agradável ao ouvido, isso será sempre uma questão subjetiva e psicológica. As pessoas classificam de feio ou bonito segundo a sua própria miopia ou experiência. Em geral, quem tem menos experiência e visão mais limitada é quem é mais crítico com o outro, incapaz de medir a sua própria ignorância.
Haveria muitas questões a considerar se fôssemos comentar conceitos de erro, variantes fonológicas e variedades geográficas do português do Brasil. Para não alongar demasiado uma resposta que se quer breve e direta, recomendo ao consulente que siga usando os seus sonoros /e/ e /o/ pretônico que encantam a plateia e identificam tão bem os oriundos de uma região interessantíssima como o Nordeste. Não há incorreção alguma nessa pronúncia, nem desvio relativamente a qualquer regra de articulação de palavras em português. Para um aprofundamento com exercícios e descrição técnica, recomendo Callou & Leite, 1990, e Silva, 2003.