Explique sobre os grandes proprietários rurais
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Resposta:
Durante a Nova República, disseminou-se junto às associações e sindicatos patronais rurais a certeza de "uma verdadeira guerra no campo" e a "inevitabilidade" da violência como única medida eficaz para conter as ações de ocupação de terras e a demanda por uma reforma agrária. O objetivo deste trabalho é mostrar, tendo como fonte o debate na grande imprensa, que a defesa e a prática da violência pelos grandes proprietários de terra e empresários rurais é estruturante e reflete um habitus que encadeia o passado e o presente numa mesma realidade. A violência revela-nos o conteúdo das relações de classe e expõe os componentes de velhos e novos padrões de conduta. Nos anos 80, ela funcionou como reforço à solidariedade e ao sentimento de pertencimento e serviu também para fortalecer ainda mais a convicção da superioridade dos proprietários sobre os trabalhadores rurais. Não se trata de um ato individual e esporádico; é uma violência ritualizada e institucionalizada, que implica a formação de milícias, a contratação de capangas, a lista dos marcados para morrer e os massacres. E nesse contexto, pouco se distingue o novo empresário do latifundiário tradicional, ou a voz "civilizada das urbes" da "rudeza dos grotões".
Explicação:
Em maio de 1985, Sarney e seus colaboradores mais próximos marcam presença no IV Congresso Nacional do Trabalhadores Rurais (Contag), realizado em Brasília, apresentando, simbolicamente, a Proposta de Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) aos trabalhadores rurais ali reunidos. Ele condena publicamente a grilagem; sustenta que a desapropriação será o instrumento prioritário da reforma; declara que "vai aplicar medidas duras para evitar a violência dos conflitos, cujo ônus recai sobre os desprotegidos posseiros" (FSP, 27/05/85) e anuncia que "os coronéis serão enfrentados com dignidade e firmeza" (JB, 29/05/85).
O Congresso da Contag e a concomitante entrada em cena dos trabalhadores rurais sem-terra foram, seguramente, os principais divisores de águas na redefinição do campo de conflito agrário então instituído e na ampliação da reação patronal durante o governo da Nova República. Logo que têm início as primeiras ocupações de terra, entidades e representantes do patronato rural praticamente tomam de assalto a grande imprensa, exigindo do governo providências urgentes para acabar com as "invasões": "Os latifúndios produtivos não podem ser desarmados", declaram. Mais importante que debater os termos do PNRA é o agir "imediato e certeiro" contra os sem-terra, nossos verdadeiros adversários, anunciam (JB, 06/06/02).
O que mais os ameaçava era a possibilidade de as ocupações se transformarem no "caminho natural" para o apoio e a mobilização da sociedade em favor da reforma. Avaliava-se que, na conjuntura de transição, setores "difusos" da sociedade civil se transformariam em participantes ativos da demanda pela reforma agrária, tornando-se, assim, "aliados potenciais" dos trabalhadores nas ocupações de terra.
As ocupações de terra nos Estados de Santa Catarina e Paraná são a primeira manifestação política de peso dos trabalhadores rurais sem terra durante o governo da Nova República. Elas trouxeram para o cenário político e para as páginas dos jornais os trabalhadores rurais sem terra, suas reivindicações e a especificidade de sua ação política. E também explicitaram, de um outro modo, o retrato da exclusão social e da concentração fundiária, além de anunciar novos contornos do confronto entre trabalhadores rurais e grandes proprietários de terra e novos processos sociais e políticos em gestação no campo (Caldart, 2000).
Os acampados reivindicam na imprensa a realização imediata de uma reforma agrária, reafirmam a importância das ocupações como principal meio de acesso à terra e demandam a liberação de uma área para o plantio coletivo, assistência médica, alimentação e segurança. Eles também relatam e denunciam as ameaças de morte que vêm sofrendo por parte dos "latifundiários" e as arbitrariedades da polícia nos acampamentos. As denúncias sobre a violência não se restringem às agressões físicas, quando interpelados pelos correspondentes regionais, é comum ouvirmos declarações anunciando que "a maior violência é a falta de alimentos e de melhores condições de trabalho", "a discriminação dos ricos" e "a enrolação do governo" (FSP, 13/07/85).