Explique quais os principais fatores que apresentaram mudanças, ao longo dos anos no processo
produtivos e nas formas de trabalho.
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Resposta:
A economia brasileira passou por importantes alterações macroeconômicas a partir dos anos 1980. Para citar algumas, temos o processo de abertura econômica no Brasil que se intensificou a partir do final da década de 1980 e, principalmente, no início dos anos 1990. Outro fato de grande relevância foi o fim do processo inflacionário, em 1994, além das mudanças na política cambial e de juros, nos fluxos de capitais etc. Alguns autores que analisaram e destacaram a importância dessas variações na estrutura e no dinamismo da economia brasileira são Salm, Saboia e Carvalho (1997), Bonelli e Fonseca (1998), Carvalho e Feijó (2000), Carvalheiro (2003), Ferraz, Kupfer e Iootty (2004), Feijó Carvalho e Almeida (2005) e Nassif (2006).Com a ocorrência de mudanças significativas na estrutura produtiva da economia brasileira, também seria de esperar alterações relevantes no mercado de trabalho. Uma das modificações relevantes pelo qual o mercado de trabalho atravessou foi o ganho de participação do setor de serviços na mão de obra empregada (e no produto) em relação aos demais setores da economia (Cruz et al., 2007). Esse tipo de mudança estrutural é natural no decorrer do desenvolvimento econômico, como enfatizado por Rowthorn (1999) e Rowthorn e Ramaswamy (1999), mas variáveis como abertura comercial e apreciação cambial podem acelerar esse processo. Um aspecto importante dessas mudanças estruturais são os seus efeitos na demanda por qualificação de mão de obra1.Por outro lado, ocorreram mudanças significativas na qualificação da mão de obra pelo aumento de sua oferta, considerando o mesmo período de tempo. Presenciamos, a partir do final da década de 1980, um aumento expressivo no nível de escolarização dos trabalhadores brasileiros devido à implantação de programas governamentais com esse objetivo. Entretanto, as evidências empíricas apresentadas nesse estudo mostram que a melhora na qualificação da mão de obra não têm sido aproveitadas em toda sua potencialidade. Isso vem ocorrendo porque a demanda por esse fator não acompanhou a expansão de sua oferta e/ou porque a elevação na qualificação se deu em termos meramente quantitativos, ou seja, sem impactos relevantes no nível de habilidades dos trabalhadores.Tendo em mente os fenômenos apresentados acima, o objetivo do artigo é verificar como as transformações estruturais observadas na economia brasileira influenciaram a demanda por trabalhadores segundo seus níveis de qualificação e de acordo como os diferentes setores da economia, além de verificar qual a sua interação com a oferta de trabalho. Nesse sentido, a contribuição do presente artigo em relação à literatura é a realização dessa análise através de gráficos e do método de decomposição (shift-share) com os dados da RAIS, no período 1985-2007. Ressaltamos ainda que não temos conhecimento de estudos que tratam de forma mais detalhada a relação entre mudança estrutural e mercado de trabalho para o Brasil com essa metodologia.Os resultados mostram que, de forma geral, a demanda por trabalhadores qualificados não aumentou nos períodos em que ocorreram os maiores ganhos de produtividade em termos relativos ou absolutos, na indústria de transformação e no setor de serviços. Por outro lado, ocorreram aumentos expressivos nas quantidades de trabalhadores com qualificação intermediária (níveis de ensino fundamental e médio completos) em todos os setores. Entretanto, os salários dos mesmos caíram de forma acentuada no período de maior expansão da oferta de trabalhadores com esse nível de qualificação, indicando que aumentos da escolaridade média dos trabalhadores brasileiros responderam, em maior medida, à expansão da oferta de ensino no país. Além disso, as mudanças estruturais ocorridas, principalmente na década de 1990, não têm agido de modo a aumentar a demanda por esse contingente crescente de trabalhadores com maior qualificação. Por fim, os aumentos de produtividade observados na década de 1990 não foram acompanhados por aumentos na quantidade de trabalhadores qualificados nos serviços e na indústria de transformação.O trabalho está dividido em quatro seções além desta introdução e das conclusões. Na próxima seção, apresentamos uma breve revisão de trabalhos empíricos sobre o processo de mudança estrutural pelo qual passam os países, além de alguns estudos que enfatizam os efeitos da abertura comercial sobre o mercado de trabalho. Na terceira seção, iniciamos a análise empírica a partir da verificação do comportamento do produto, do emprego e da produtividade nos setores da economia brasileira. Finalmente, na quarta seção, realizamos uma análise da evolução da escolaridade dos trabalhadores nos diferentes setores, comparando os resultados obtidos com aqueles da seção anterior.