Explique por que a mudança de perspectiva nos romances machadianos da segunda fase é peça essencial para a construção do olhar realista do autor.
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No ano de 1878, acometido por sérios problemas de saúde, Machado de Assis decidiu mudar-se com sua esposa, Carolina, da cidade do Rio de Janeiro para Nova Friburgo, localizada na região serrana e conhecida por seus bons ares. A mudança não seria apenas física, pois a partir dali o escritor recuperaria o fôlego criativo, dando início à chamada segunda fase da prosa de Machado de Assis.
Até então, Machado de Assis era conhecido por seus livros voltados para uma estética romântica em visível decadência, que, graças ao sucesso da empreitada rumo ao realismo, ainda hoje não servem como cartão de visitas para o “Bruxo do Cosme Velho”, alcunha que ganhou por ter residido durante longos anos no bairro de mesmo nome. Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) foram escritos pelo jovem Machado de Assis, ainda distante do prosador irônico no qual ele se transformaria. Ainda assim, Machado de Assis distinguia-se dos demais: enquanto outros românticos falavam do amor e da paixão amorosa, ele concentrava a força de sua narrativa em personagens femininas ávidas por ascensão social, ainda que sob pena do sacrifício da vida sentimental.
Podemos afirmar, categoricamente, que na ficção machadiana encontramos o ponto mais alto e mais equilibrado da prosa realista brasileira. Memórias Póstumas de Brás Cubas, considerado o divisor de águas do aclamado escritor, já mostra seu interesse por desvendar tipos humanos através de sua grande consciência crítica, conduzindo o leitor por uma narrativa peculiar e inundada por finas ironias, talvez o mais característico traço da escrita machadiana. Com o êxito de Memórias Póstumas de Brás Cubas, que apresentou ao público uma personagem distante da dualidade maniqueísta que divide os homens entre bons e maus, Machado ainda nos deixou obras-primas como Quincas Borba e Dom Casmurro, cuja atmosfera universalizante também alcançou seus últimos romances, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.
Machado de Assis assume papel central na história da Literatura brasileira, sendo reverenciado e revisitado por diversos escritores, movimento que também ganha força no âmbito internacional. Segundo Harold Bloom, professor e crítico literário norte-americano, “Machado de Assis é uma espécie de milagre, mais uma demonstração da autonomia do gênio literário quanto a fatores como tempo, lugar, política e religião, e todo o tipo de contextualização que supostamente produz a determinação dos talentos humanos”.