Explique o pensamento teórico que norteou a gramática de Port Royal durante a renascença
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Resposta:
A publicação da Gramática de Port-Royal (1660) representa um corte epistemológico e uma ruptura com o modelo latino. Surge como resposta às insatisfações com a gramática formal do Renascimento. Inicia-se a busca do rigor científico, na ruptura com o método das gramáticas anteriores.
Com fundamento no racionalismo francês, com base em princípios aperfeiçoados por René Descartes (Discours de la méthode), surgem as tentativas de elaboração da gramática filosófica, a partir do princípio de que a língua é a expressão do pensamento e que o pensamento é governado pelas mesmas leis em todos os seres humanos, daí concluir-se que deveria a língua refletir essas mesmas leis, sendo possível, pois, a elaboração de uma gramática geral, comum a todas as línguas.
A esse período da história da Lingüística Noam Chomsky vem a classificar de “lingüística cartesiana”.
O auge da orientação lógica nos estudos gramaticais encontra-se na Gramática de Port-Royal. Há que lembrar, porém, que, anteriormente, no século XVI, Escaligero (1540), Ramus (1559) e Sanchez (1587) igualmente romperam com a tradição humanística e procuraram dar bases filosóficas ao estudo da linguagem. (cfr. Padley, 1976, p.58).
Julius Caesar Escaliger (De causis linguae latinae) procurou aplicar à língua as categorias lógicas de Aristóteles. Francisco Sánchez de las Brozas (Minerva seu de Latinae linguae causis et elegantia) buscou a estrutura lógica comum a todas as línguas. É por alguns considerado o verdadeiro fundador da gramática geral clássica. Lembra Fávero que, segundo R. Donzé (1970, p.XII), o contato de Lancelot com a obra de Sanchez teria ocorrido aproximadamente em 1654. (Fávero, 1997, 107).
À gramática não caberia ser somente o registro de regras, normas e preceitos com base no uso simplesmente: não mais o uso como o único mestre das línguas, como apregoava Vaugelas (Remarques sur la Langue Française – 1647), idéia que predominou até a primeira metade do séc. XVII, em que a gramática era concebida como o registro dos usos, dos “bons usos”, a serem estabelecidos com base na “qualidade” ou qualificação dos usuários; não mais o uso por si mesmo, mas a procura de seu fundamento racional.