explique o diferença entre mitologia grega e os mitos atuais
Soluções para a tarefa
Para poder responder a essas perguntas com precisão, devemos primeiramente abandonar o sentido que a palavra mito assumiu nos dias de hoje, como sendo uma história inventada, inverídica, uma mentira, para então podermos retomar o sentido original da palavra. Mito vem da palavra grega mythos (μῦθος) que pode ser traduzido como discurso ou narrativa. O mito é então simplesmente uma história narrada, indiferente do julgamento que façamos sobre ela de verdadeira ou falsa.
Mitologia é formado pelas palavras mythos e logos (λόγος). É interessante notar que nas poesias homéricas as duas palavras são tratadas como sinônimos, mas conforme avançamos para o período da grécia clássica no século V a.C., essa sinonímia vai se perdendo, ao ponto das duas palavras passarem a adotar sentidos opostos. Enquanto mythos passou para o campo semântico do “crer”, logos passou para o campo do “saber” e da “razão”. Mitologia então nada mais é do que o logos aplicado sobre o mythos, ou seja, uma “racionalização” e “sistematização” dos mitos.
Essa corrente de interpretação alegórica dos mitos irá perdurar por todos os estudiosos até o século XVIII, quando então o filósofo alemão Friedrich Schelling propõe em sua “Introdução a Filosofia da Mitologia” uma interpretação tautegórica dos mitos, e não mais alegórica. Isso quer dizer que os mitos deveriam ser analisados pelos seus significados próprios, internos, e não externos como fazem os alegóricos.
Segundo Cassier, em seu livro “Filosofia das Formas Simbólicas”, o mito é algo concreto, pois está relacionado com conteúdos sensíveis através de imagens, existindo desta forma uma unidade entre o objeto e o conceito. A corrente simbólica se propõe então a descobrir a visão de mundo própria do pensamento mítico, e por conseguinte do homem mítico, que possui categorias de pensamento próprias e diferentes do pensamento racional.
Uma outra corrente que surgiu em seqüência da simbolista foi a funcionalista, que diferente da corrente anterior, propunha uma análise do mito de forma mais prática e funcional, relacionando sempre o mito ao rito (ou vice-versa). Existem duas subdivisões nessa corrente, sendo que a primeira acredita que o rito é posterior ao mito, e portanto, um rito explicaria um mito. Já a segunda acredita que é o contrário, que o mito é que é posterior ao rito, e portanto, um mito serviria para organizar e explicar certa prática social que já acontecia. Alguns nomes da corrente funcionalista são Francis Cornford, James Frazer e Eric Havelock.
Por fim, a última corrente que surgiu foi a estruturalista, criada em meados do século XX pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss. A corrente estruturalista buscava a convergência do pensamento místico.Mas uma falha que todas essas correntes apresentam é o de tentar generalizar as suas interpretações teóricas a todos os mitos de todos os povos e culturas. Ainda que diferentes mitos de diferentes povos possam ter estruturas idênticas, como bem percebeu mitólogos como Joseph Campbell, um método de análise que se aplica bem a mitologia grega não necessariamente servirá também para a mitologia nórdica ou brasileira. Isso acontece porque dentro de uma mesma mitologia não existe apenas um mito de um determinado personagem ou acontecimento, mas vários, e cada um variando em pequenos detalhes um do outro. E para uma boa análise do mito, esses detalhes não podem ser deixados de lado.
No que tange especificamente aos mitos gregos, tendemos a reconhecer como “o mito” aqueles que se tornaram cristalizados pelas obras literárias como a poesia épica.
E não pense que a criação de mitos é apenas algo dos povos antigos e deixou de ser feita nos dias de hoje. Como eu já disse neste artigo sobre Heracles, um mito pode sobreviver além de seus povos de origem, e isso acontece justamente pela novas versões deles que vão surgindo, seja com a continuidade da narrativa oral que se transformam de geração para geração, seja com novas obras literárias que buscam um novo olhar sobre um certo mito ou até mesmo tentando recriá-lo completamente para adaptá-lo as novas gerações. Mesmos nas mídias artísticas mais modernas como o cinema, ou inclusive os videogames, essa criação de novos mitos continua a ser feita. E eu mesmo estou criando os meus próprios “mitos gregos” com Nova Hélade. =)
Espero ter lhe ajudado! Bom estudo