explique as peculiaridades no processo de urbanização do continente africano, quais fatores o intensificam?
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A África vive um processo de urbanização iniciado na década de 1950. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o consumo de matérias-primas e combustíveis fósseis aumentou e o continente passou a exportá-los. A infraestrutura criada para suprir essa demanda e escoar os produtos concentravase nas maiores cidades e, naquela época, ainda era bastante precária. Nas décadas seguintes, diversos países conquistaram a sua independência e se integraram à nova ordem econômica vigente, o que resultou no crescimento de muitas regiões.
A queda do muro de Berlim, em 1989, também influiu nessa transformação. Com a supremacia do modelo capitalista e a posterior globalização, as cidades africanas passaram a se desenvolver cada vez mais. A população rural começou a migrar em busca de melhores oportunidades de emprego e ascensão social. Botsuana, por exemplo, concentrava 21% da população nas cidades em 1990. Dados de 2007, divulgados este ano, mostram que essa porcentagem subiu para 60%.
Jean-Pierre Elong-Mbassi, geógrafo e urbanista camaronense, considera que as nações não souberam se preparar para tal mudança. O problema, de acordo com ele, é que na África, de modo geral, 70% dos recursos públicos estão nas mãos do governo federal. Repasses às outras esferas administrativas dependem, muitas vezes, da boa relação entre políticos. Daí a dificuldade dos municípios em obter verbas para investir em urbanização.
Uma das consequências desse desenvolvimento desordenado é o trânsito intenso, já que não há oferta adequada de transporte público. Sofrem com ele, por exemplo, a Cidade do Cabo, na África do Sul, Lagos, na Nigéria, e Kinshasa, na República Democrática do Congo. O quadro se agrava com as moradias precárias e sem saneamento básico que se espalham pelos bolsões de pobreza nos grandes centros. Nairóbi, no Quênia, tem a maior favela do continente africano, Kibera. Lá, vivem cerca de 1 milhão de pessoas, amontoadas em casas feitas de madeirite e lata.
"A população do continente é majoritariamente jovem e as taxas de natalidade são altas. Querendo o melhor para si e para os filhos, as pessoas ficam nas cidades, na maioria das vezes desempregadas e morando em condições subumanas", conta Rafael Sanzio, especialista em geografia africana e docente da Universidade de Brasília (UnB). A situação tende a se agravar. De acordo com o relatório Estado das Cidades Africanas, divulgado em 2008 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a população urbana africana duplicará até 2030.