Existem, na verdade, quatro categorias de bens patrimonials: os bens naturals, os bens materials, os bens intelectuals (que são o conjunto do conhecimento humano) e os bens emocionais, em que são inseridas as manifestações folclóricas, religiosas e artisticas de cada povo Na Constituição Brasileira de 1988, os termos de regulamentação do serviço do patrimônio cultural, atualmente centralizados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional (IPHAN), determinam que tal serviço objetiva a promoção do tombamento e da conservação do patrimônio histórico e artistico nacional. O que nos leva a constatar que a ideia de patrimônio histórico ainda está muito associada à de monumento, pois é o conjunto de sitios históricos e monumentos o que normalmente corresponde à descrição de patrimonio histórico, sendo os alvos principais dos tombamentos previstos por lei. Só com a atual definição de patrimonio cultural foi que tal noção passou também a abranger heranças abstratas, e não apenas vestigios materials. Lembremos, entretanto, que a própria delimitação do que é monumento, do que é ou não patrimônio é seletiva, escolhe somente os pontos do passado que queremos lembrar e rejeita os outros. Assim, visto que a noção de monumento é seletiva e é a partir dela que se constitui o conceito de património, a própria ideia de patrimônio cultural não pode ser a mesma para todo o mundo, já que depende de diferentes contextos nacionais. Cada cultura tem sua noção de patrimônia, que molda seu tipo de ação estatal. E um dos grandes desafios da Unesco, nesse sentido, é conciliar as diversas interpretações do patrimônio e propor ações internacionais que reforcem os esforços de preservação Nessa perspectiva, para entendermos o significado de patrimônio histórico precisamos primeiro compreender o que é monumento. Para o historiador Jacques Le Goff, monumento é tudo o que pode evocar o passado e recordar, até mesmo o escrito. Para ele, a diferença entre monumento e documento não está no fato de o primeiro ser vestigio material e o outro, vestigio escrito, mas no fato de que o monumento é voluntariamente selecionado pela sociedade para lembrar o passado que ela escolheu lembrar. O documento, por sua vez, foi visto durante muito tempo pelos historiadores como registro do passado como um todo, ou pelo menos, não apenas daquele passado escolhido pela sociedade como o passado ideal. Le Goff foi mais além afirmando que todo documento tem sua dose de monumento, ou seja, não é imparcial. A critica ao documento, assim, não é novidade, mas precisamos também fazer a critica do monumento Atualmente, com a retomada da preocupação com o patrimonio cultural no Brasil, vemos um incremento do turismo cultural que valoriza igualmente manifestações folclóricas, sitios históricos e arqueológicos e reservas ambientals. Do ponto de vista do patrimonio histórico, no entanto, talvez pela pequena atuação de historiadores nesse campo de trabalho emergente, a critica histórica tem sido pobre Ou seja, a busca da sociedade por se interessar por seu passado ainda é baseada quase sempre em monumentos, em sobras de um passado que ela escolheu lembrar. Os turistas procuram, dessa forma, principalmente as "dades de ouro" do Brasil, os momentos gloriosos do passado, ou o que queremos considerar como tal: o Recife holandés, os franceses de São Luis, o bandeirantismo paulista, as cidades de ouro de Minas Gerais. No entanto, tal olhar muitas vezes é acritico, pois busca apenas o pitoresco e não se preocupa com os problemas estruturais, com a história que moldou cada periodo, com a razão de ser daqueles monumentos. Cabe a nós, historiadores, mudar esse olhar e aproveitar o interesse pelo patrimônio cultural para desenvolver verdadeiras divulgações históricas em torno de cada um desses sitios. Cabe a nos ultrapassar a própria monumentalidade e começar a transformar aqueles recortes do passado em pontes para o conhecimento critico da História. Além disso, precisamos nos perguntar constantemente se a comunidade tem, de fato, alguma identificação com aquele passado, "gloriose" ou não, que está sendo evocado pelo patrimonio, sempre nos preocupando também em estabelecer formas de trabalhar a relação
EXERCÍCIO
1. De acordo com o texto, porque a noção de patrimonio mudou de "histórico" para "cultural"?
2. Qual foi a definição atual de patrimonio elaborada pela Convenção sobre Proteção do Património Mundial
Cultural e Natural realizada em 1972?
3. Qual é a interesse politico em torna da preservação do patrimonio?
4. Cite as quatro categorias de bens patrimonials
5. Por que a autora considera que a delimitação do que é ou não patrimônio é seletiva?
6. O que é monumento? Como esta noção se relaciona com o patrimonio?
7. De acordo com os autores de texto, o olhar sobre o patrimônio é ainda acritico, ou seja, não possui
nenhuma reflexão critica. For que?
8. De acordo com o texto, qual o papel dos historiadores para desenvolver o pensamento critico sobre o
patrimonio?
Soluções para a tarefa
Explicação:
1. De acordo com o texto, porque a noção de patrimonio mudou de "histórico" para "cultural"?
R:Porque a noção de patrimônio histórico ainda está muito associada à de monumentos, pois é o conjunto de sítios históricos e monumentos o que normalmente corresponde à descrição de patrimonio histórico, sendo os alvos principais dos tombamentos previstos por lei. Já a nova definição de patrimonio cultural abrange heranças abstratas, e não apenas vestígios materiais.
2. Qual foi a definição atual de patrimonio elaborada pela Convenção sobre Proteção do Património Mundial Cultural e Natural realizada em 1972?
R:Para fins da presente Convenção serão considerados como património:
Os monumentos. – Obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura
monumentais, elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições,
grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
Os conjuntos. – Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
Os locais de interesse. – Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da
natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.
3. Qual é a interesse politico em torna da preservação do patrimonio?
R:O interesse reside na perpetuação da história e da cultura popular, tal como na possibilidade de lucro em relação a isto por meio de exposições culturais e do turismo.
4. Cite as quatro categorias de bens patrimoniais.
R:Bens naturais, materiais, intelectuais e emocionais.
5. Por que a autora considera que a delimitação do que é ou não patrimônio é seletiva?
R:Porque ela escolhe somente os pontos do passado que queremos lembrar e rejeita os outros.
6. O que é monumento? Como esta noção se relaciona com o patrimonio?
R:Para o historiador Jacques Le Goff, monumento é tudo o que pode evocar o passado e recordar, até mesmo o escrito. Como patrimônio relaciona-se a noção de propriedade, pode-se dizer que para que haja tal definição, o material em questão deve estar associado a alguma cultura.
7. De acordo com os autores de texto, o olhar sobre o patrimônio é ainda acrítico, ou seja, não possui
nenhuma reflexão critica. For que?
R: Porque busca apenas o pitoresco e não se preocupa com os problemas estruturais, com a história que moldou cada período, com a razão de ser daqueles monumentos.
8. De acordo com o texto, qual o papel dos historiadores para desenvolver o pensamento critico sobre o
patrimonio?
R:Cabe aos historiadores ultrapassarem a própria monumentalidade e começar a transformar aqueles recortes do passado em pontes para o conhecimento critico da História. Além disso, precisam se perguntar constantemente se a comunidade tem, de fato, alguma identificação com aquele passado, "glorioso" ou não, que está sendo evocado pelo patrimonio, sempre se preocupando também em estabelecer formas de trabalhar a relação da sociedade com o seu passado.