Existe relação entre a política e virtude no pensamento de Platão? Explique!
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Resposta:
Para compreender a ética e a política platônica, é necessário conhecer antes a sua metafísica e teoria do conhecimento. Sobre o assunto, leia o resumo de aula do 2º ano sobre o assunto aqui.
À imagem da organização hierárquico-ontológica da realidade, Platão organiza a alma humana. Para ele, a alma é o verdadeiro homem. Dotada de imortalidade, após a morte do corpo (cárcere da alma) a alma escolhe o seu destino numa outra vida conforme a verdade que possui (ou seja, o quanto de verdade ela contemplou no mundo das ideias) e migra para outro corpo (metempsicose).
Platão divide a alma em três partes ou funções: uma parte concupiscível ou sensual, a mais relacionada com as necessidades corporais; uma segunda parte irascível, correspondente aos impulsos e afetos, e, por último, a parte racional, mediante a qual é possível o conhecimento das ideias e a volição em sentido deliberativo, segundo a razão. Este esquema da psicologia será mais profundamente desenvolvido no pensamento aristotélico.
Explicação:
A moral individual tem uma tradução quase exata na teoria da constituição civil ou politéia, tal como a expõe no diálogo A República e depois, de forma atenuada, de mais fácil realização, na obra Leis. Como a alma, a cidade também pode ser considerada um todo composto de três partes, que correspondem às psíquicas. Essas partes são as três grandes classes sociais que Platão reconhece: o povo - composto de camponeses, artesãos e comerciantes -, os soldados e os filósofos. Há uma estreita relação entre essas lasses e as faculdades da alma humana, e, portanto, a cada um desses grupos sociais pertence de modo eminente uma das virtudes. A virtude das classes produtoras é, naturalmente, a temperança; a dos vigilantes ou guerreiros, a coragem, e a dos filósofos, a sabedoria, a phrónesis ou sophía. Também aqui a virtude fundamental é a justiça, e isso de modo ainda mais rigoroso, pois consiste no equilíbrio e boa relação dos indivíduos entre si e com o Estado, e das diferentes classes entre si e com a comunidade social. É, pois, a justiça que rege e determina a vida do corpo político, que é a cidade. O Estado platônico é a pólis grega tradicional, pequenas dimensões e escassa população; Platão não chega a imaginar outro tipo de unidade política.
Os filósofos são os arcontes ou governantes encarregados da direção suprema, da legislação e da educação de todas as classes. A função dos soldados (ou vigilantes) é militar: a defesa do Estado e da ordem social e política estabelecida contra os inimigos de dentro e de fora. A terceira classe, a produtora, tem um papel mais passivo e está submetida às duas classes superiores, às quais tem de sustentar economicamente. Em troca, recebe delas direção, educação e defesa. Há que se notar que nessa comunidade ideal o papel das leis é praticamente nulo, pois a justiça (cada pessoa na sua classe social) seria a garantia do respeito entre os cidadãos.
Platão estabelece nas duas classes superiores um regime de comunidade não só de bens, mas também de mulheres e filhos, que pertencem ao Estado. Não existem propriedade nem famílias privadas, salvo na terceira classe. Os dirigentes não devem ter interesses particulares e devem subordinar tudo ao serviço supremo da pólis.
A educação é gradual, e é ela que opera a seleção dos cidadãos e determina a classe a que irão pertencer, segundo suas aptidões e méritos. Os menos dotados recebem uma formação elementar e integram a classe produtora; os mais aptos prosseguem sua educação (música e ginástica), e uma nova seleção separa os que ficarão entre os vigilantes e os que, depois de uma preparação superior (dialética),ingressam na classe dos filósofos e terão de carregar, portanto, o peso do governo. Na educação platônica alternam-se exercícios físicos com disciplinas intelectuais; o papel de cada cidadão está rigorosamente fixado na sua idade. Tanto a relação entre os sexos como a reprodução estão submetidos ao interesse do Estado, que as regula de modo conveniente. Em toda a concepção platônica da pólis nota-se uma profunda subordinação do indivíduo ao interesse da comunidade. A autoridade é exercida de modo enérgico, e a condição central para o progresso da vida política da cidade é que esta seja regida pela justiça.