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Resposta:
O trabalho apresentado tem como foco a análise das reconfigurações do movimento negro entre as décadas de 1970 e 1990. Busca-se aqui analisar como as organizações que conformam o movimento negro interpretaram e se apropriaram de distintas oportunidades políticas disponíveis em diferentes contextos políticoinstitucionais e, a partir de suas capacidades, objetivos e estratégias, desenvolveram ações na busca da transformação do quadro de profundas desigualdades raciais no país. Mais especificamente, a pesquisa focaliza a atuação das organizações do movimento negro a partir do processo de redemocratização brasileiro, iniciado na segunda metade dos anos 1970. Uma das características marcantes do período analisado é a abertura de canais participativos na gestão do Estado (como conselhos, fóruns e conferências). Tal processo, intensificado a partir dos anos 1990, vem facilitando a entrada de militantes e lideranças negras e de suas demandas na agenda das políticas de Estado. O movimento negro tem sido um dos principais atores sociais a ocupar e a tornar estes espaços participativos em locais de disputa política (Ubiali, 2006). Portanto, não se trata apenas da abertura de canais participativos, mas também de novas formas de relação entre Estado, organizações e movimentos sociais que precisam ser entendidas pelas ciências sociais.
Por Leonardo Rafael Santos Leitão Do Anpocs
Nos últimos 30 anos, pelo menos, a tese dominante na literatura de movimentos sociais no Brasil, centrada na defesa da ideia de que os movimentos sociais se constituíam como opositores diretos às estruturas de Estado, dificultou o desenvolvimento de análises que levassem em conta a complexidade das relações entre movimentos sociais e Estado, em especial no período pós-ditadura. A crescente inserção de militantes sociais nas estruturas estatais, característica deste período, tendeu a ser interpretada como expressão direta de desvios estratégicos ou cooptação política. O ponto de vista adotado aqui visa problematizar tal generalização, a partir do argumento de que a inserção institucional é um dos repertórios de ação possíveis de serem utilizados pelos movimentos sociais na busca de seus objetivos, principalmente em contextos democráticos.
A hipótese levantada é a de que, em determinados contextos políticoinstitucionais, a possibilidade dos movimentos sociais brasileiros terem suas demandas em relação ao Estado atendidas passou e ainda passa, mesmo que não exclusivamente, por uma certa inserção no mesmo. Inserção esta que aparece de forma mais contundente como um horizonte para os movimentos sociais após a abertura política do país nos anos 1980 e de uma maior institucionalização das demandas sociais, muitas delas sintetizadas em partidos políticos, principalmente os partidos de esquerda, que no período de democratização funcionaram como uma espécie de mediador político entre o Estado e os movimentos sociais.
O confronto político pode tomar variadas expressões de acordo com as possibilidades e limites estabelecidos pelo contexto político-institucional e, ainda, pelas interpretações que os atores envolvidos em ações conflituosas fazem do cenário no qual atuam. Em conjunturas políticas menos favoráveis aos movimentos sociais, o confronto direto contra o Estado pode ser a única alternativa, ou a utilização de repertórios de ação mais institucionalizados podem ser de difícil utilização, principalmente por atores sociais pouco institucionalizados, como o movimento negro. Por outro lado, em conjunturas mais favoráveis à participação política, o conflito político entre Estado e movimentos sociais pode continuar a existir, porém os repertórios utilizados pelos movimentos sociais tendem a serem mais formais e inclusive reconhecidos pelo próprio Estado.
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