Português, perguntado por vivi2k3, 11 meses atrás

Eu não quero ficar velhinha
Com quase quatro anos, minha filha começa a
compreender um elemento fundamental da existência:
o tempo. Meu filho, de dois, não tem a menor ideia de
que haja um antes e um depois. Sua vida é um agora
contínuo, uma tela diante da qual passam mamadeira,
berço, carrinho, pudim, avó, banho, Lego, minhoca.
Outro dia me meti numa encrenca porque resolvi falar
que “amanhã” seria aniversário dele e ele iria ganhar
presente. Ele abriu um sorriso, pediu o presente. Eu
disse “amanhã”. Ele pediu de novo, educadamente,
mas já sem o sorriso. Repeti, educadamente (e sorrindo
muitíssimo), que o presente seria dado “amanhã”.
Foi aquela choradeira. Claro. É como chegar pra um
adulto e dizer “O senhor ganhou na Loto”. “Cadê o
dinheiro?”. “Szjnau-sshchfundstrrrrrulmp!”. “Onde?!”.
“Szjnausshchfundstrrrrrulmp!”
A minha filha, por sua vez, usa “amanhã” com bastante
desenvoltura: pra nomear qualquer dia que não seja hoje,
no passado ou no futuro. “Amanhã, quando eu nasci e
era bebê”. “Amanhã quando for Natal de novo”. “Amanhã,
quando eu tiver a minha filha, ela vai chamar Isabela
Belink”. (É sério, não me pergunte por quê).
Semana passada, diante de uma foto minha com a
idade dela, ela finalmente entendeu que eu já fui criança.
Passou uns segundos ressabiada, olhando a foto,
olhando pra mim, então algo se iluminou: “Mas papai,
quando você era do meu tamanho você morava em outra
casa, né?”. “Morava”. “E essa casa era muito longe daqui,
né?”. Eu disse que era perto. Ela ficou aflita. “Não, papai!
Quando você era pequeno você morava numa casa
muito, muito, muito, muito, muito, muito longe daqui!”. A
distância física, compreendi, era a maneira que ela tinha
de elaborar a distância temporal.
Deve ser ignorância minha, mas não acho o tempo
misterioso, só acho cruel. Ele passa, a gente envelhece
e depois adeus pudim, presentes de aniversário. Minha
filha, com quase quatro anos, também começa a entender
que essa história do tempo passar não tem como acabar
bem. Numa livraria, um dia depois de descobrir que eu
havia sido criança, ela viu duas velhinhas, bem velhinhas,
pagando as compras. Abraçou as minhas pernas e
perguntou: “Papai, eu também vou ficar velhinha?”. Eu
sussurrei: “Vai, mas fala baixo”. “Papai, eu não quero
ficar velhinha!”. “Shhhh, fala baixo!”. “Não, papai, eu não
quero ficar velhinha!”. Abandonei a fila com ela gritando:
“Não quero! Não quero ficar velhinha!”
Vai demorar um pouco pra ela entender que, em
relação ao tempo, o melhor que pode acontecer é ficar
velhinha. Enquanto isso, tento acalmá-la dizendo que
ela, velhinha, mora numa casa muito, muito, muito, muito
longe daqui: indo a pé, de carro ou de avião, vai levar
mais de 80 anos pra chegar.

1) A noção de tempo é complexa e, por isso vai sendo
apropriada pelas crianças ao longo dos anos. Essa
característica pode ser evidenciada porque:
a) As crianças, em geral, não têm conhecimento
sociocultural para compreender a dimensão temporal
b) O menino mais novo apropria-se mais do conceito
temporal
c) A menina mais velha está mais próxima de entender
a relação dos indivíduos com o tempo
d) Os adultos não são capazes de esclarecer os mais
novos sobre a importância do tempo

2) Outro dia me meti numa encrenca porque resolvi falar
que “amanhã” seria aniversário dele e ele iria ganhar
presente.
Para o menino, a palavra amanhã:
a) Apresenta sentido abstrato
b) Não tem significado algum
c) Indica um fato no futuro
d) Faz referência a um evento passado

3) Numa livraria, um dia depois de descobrir que eu
havia sido criança, ela viu duas velhinhas, bem velhinhas,
pagando as compras.
Para adultos, que já têm consciência do conceito de
tempo, é evidente que todos passaram pela infância.
No entanto, para crianças, que não dominam a noção
temporal, esse raciocínio não é óbvio, já que para elas:
a) O passado não é devidamente apresentado
b) O passar do tempo não representa o mesmo que para
os adultos
c) Passado e presente têm igual importância
d) O tempo presente é a única referência concreta

4)A reação da menina ao se deparar com a passagem
do tempo demonstra que, em príncipio, essa relação pode
ser negativa. Porém:
a) O pai assume que o transcorrer do tempo pode ser,
na verdade, um fator positivo
b) O tempo passa para todos indistintamente
c) A sociedade precisa lidar de formas mais produtivas
com a velhice
d) O preconceito com os idosos surge já na infância

Soluções para a tarefa

Respondido por Lorenagoes
1
  1. A menina mais velha está mais perto de entender a relação do indivíduo com o tempo.
  2. Para o garoto a palavra amanhã não tem significado algum.
  3. Para as crianças o passar do tempo não tem o mesmo significado que para os adultos.
  4. O tempo passa para todos indistintamente.

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