estudo do homem é independente da psicologia
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Resposta:
Ao ministrar disciplinas que versam sobre os fundamentos da psicologia, temos tido a preocupação de fazer com que os alunos reflitam sobre a ciência em que estão sendo formados. Julgamos que a reflexão deva ser feita com o objetivo de se entender a produção histórica da ciência psicológica para, a partir daí, entendermos a psicologia que estamos fazendo e que rumos ela vem tomando. Temos, sobretudo, a preocupação de formar um profissional que possa contribuir com sua ciência de maneira ativa e crítica. Nesse sentido, tem este artigo o objetivo de argumentar sobre a necessidade de se estudar a psicologia de uma perspectiva histórica, ou seja, a partir do ponto de vista que apreende a ciência psicológica como uma prática social e que entende serem os seus fundamentos, históricos e filosóficos, intimamente ligados à própria forma de o homem viver e se expressar na sociedade.
Partindo dessa perspectiva, entendemos que a psicologia vai sendo construída à medida mesmo que os homens vão construindo a si e a seu mundo. A preocupação do homem com as chamadas atividades subjetivas é tão antiga quanto as primeira formas do pensamento racional, ou seja, quando o homem pensa acerca do mundo, dos outros homens e de si mesmo, elabora idéias psicológicas, idéias que se referem a processos individuais e subjetivos, como, por exemplo, as percepções e as emoções.
O homem, sendo personagem principal desse processo de desenvolvimento do pensamento, cria idéias, entre elas as idéias psicológicas. Ele cria as ciências como forma de compreensão do mundo; entre essas ciências cria a psicologia, tendo como objetivo o entendimento do que hoje chamamos subjetividade, bem como a interpretação desta na sua relação com o mundo e com outros homens. Isso significa que a psicologia pode ser considerada uma ciência social, e seu objeto o homem. Ao falarmos do desenvolvimento da psicologia, estamos, ao mesmo tempo, nos referindo ao desenvolvimento, ao processo, à elaboração e à criação do pensamento humano. Ou seja, assumimos e entendemos que o homem está em constante movimento. Como analisa Lane (1985), ele "fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza, o homem é cultura, é história" (p. 12).
Estudando a psicologia numa dimensão histórico-social, é possível entender a sua constituição em ciência e entender seus debates atuais no interior mesmo das relações sociais desenvolvidas pelos homens. Concebemos, como primeiro ponto a ser levado em conta, que a psicologia não é uma criação mágica ou abstrata. Pelo contrário, é uma criação humana e bem concreta: inicialmente, enquanto idéias psicológicas imersas na filosofia; depois, enquanto disciplina científica, tendo, nos dois momentos, o objetivo de compreender as ações, as atitudes, os comportamentos e tantos outros estados subjetivos humanos que se revelam dinamicamente na relação dos homens entre si no mundo em que vivem.
O segundo ponto a considerar é que a psicologia, por muito tempo, foi tema da filosofia. Muitos estudiosos consideram que ela se emancipou da filosofia em meados do século XIX. Sendo assim, nos parece que não podemos resgatar a história da psicologia sem entendermos a filosofia como primeira forma de desenvolvimento do pensamento humano racional, quando das primeiras indagações do homem sobre o mundo.
E, ainda, um terceiro aspecto a se observar é que o aparecimento da consciência humana é concomitante ao aparecimento do pensamento racional, já que o homem de simples animal passa a ser humano, social e histórico. Essa consciência que em primeira mão é a consciência de si, leva o homem a elaborar os primeiros conceitos sobre a subjetividade humana, que nada mais são do que as próprias idéias psicológicas, embriões da futura ciência psicológica.
Sobre esses três pontos é que desenvolvemos algumas reflexões que têm nos ajudado a compreender e ensinar a história da psicologia.