Estranha é a cabeça das pessoas.
Uma vez, em São Paulo, morei numa rua que era dominada por uma árvore incrível.
Na época da floração, ela enchia a calçada de cores. Para usar um lugar-comum,
ficava sobre o passeio um verdadeiro tapete de flores; esquecíamos o cinza que nos
envolvia e vinha do asfalto, do concreto, do cimento, os elementos característicos
desta cidade. Percebi certo dia que a árvore começava a morrer. Secava
lentamente, até que amanheceu inerte, sem folha. É um ciclo, ela renascerá,
comentávamos no bar ou na padaria. Não voltou. Pedi ao Instituto Botânico que
analisasse a árvore, e o técnico concluiu: fora envenenada. Surpresos, nós, os
moradores da rua, que tínhamos na árvore um verdadeiro símbolo, começamos a
nos lembrar de uma vizinha de meia-idade que todas as manhãs estava ao pé da
árvore com um regador. Cheios de suspeitas, fomos até ela, indagamos, e ela
respondeu com calma, os olhos brilhando, agressivos e irritados:
— Matei mesmo essa maldita árvore.
— Por quê? — Porque na época da flor ela sujava minha calçada, eu vivia varrendo essas flores
desgraçadas.
(Inácio de Loyola Brandão)
Exercícios:
1) Por que, no começo do texto, o narrador afirma que “Estranha é a cabeça das
pessoas.”
2) Observe a frase: “Na época da floração, ela enchia a calçada de cores.” (2º
parágrafo).
a) Qual é a época da floração?
b) O que significa a expressão “enchia a calçada de cores”?
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Resposta: 1) Por que, no começo do texto, o narrador afirma que “Estranha é a cabeça das pessoas.”
R: Porque elas parecem nunca estarem satisfeitas. Ora querem mais árvores nas ruas, ora não querem.
2) Observe a frase: “Na época da floração, ela enchia a calçada de cores.” (2º
parágrafo).
a) Qual é a época da floração?
R: Se inicia no outono.
b) O que significa a expressão “enchia a calçada de cores”?
R: O narrador quis dizer que a árvore, por ser floral, enchia a calçada de vida com as flores caídas.
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