Question

Estou em casa

Estou em casa. Sozinho, com um monte de pensamentos que, há tempo, não pensava. O tempo agora é outro. O que faço é acordar e me fazer companhia. Rabisco ideias em mim, revisito dias em que estava acompanhado e me alimento da esperança de que o tempo vai me levar a algum lugar.
Ouço os barulhos que fazem os que ficam nas tecnologias a dizer coisas. Alguns são mais responsáveis. Outros, apenas gritam. Desligo dos sons e ouço o silêncio. Eu havia esquecido o som do silêncio.
Entro em mim com cuidado. Havia perdido o costume. Digo coisas que estavam guardadas em algumas prateleiras esmaecidas pelo desuso. E faço a confissão dos que se perderam por aí. Já não sei quem sou. O que sei é que fui acumulando desnecessidades. De guardados em guardados, os espaços foram sendo ocupados. Vez ou outra, me desfazia de alguma coisa e até de algum sentimento.
Sinto medo, nesses dias. Olho as ruas desertas de uma humanidade frágil. Um vírus calou os abraços, os beijos, os afagos tão necessários. Um vírus interrompeu as visitas, as viagens, as alegrias em grupo.
Que vírus é esse? Por que ele veio? O que ele quer? Não sou entendedor das filosofias e sempre tive cuidado com conclusões apressadas. Só sei que reparo no que os outros dizem e desconfio. Aprendi isso com minha avó que só pôde estudar na escola da vida e que se fez mestra das observações. "Ouça muito e fale nada, menino", dizia ela varrendo a sujeira do mundo com suas mãos decididas. O quintal tinha a plantação e tinha a conversa. Falava ela com as flores que davam delicadeza aos dias. Eu achava lindo de ver. Com um lenço, invariavelmente, sobre o cabelo e a pressa nenhuma, ela gastava as manhãs dando vida aos enfeites da vida. E, depois, o tempo era o do fogão a lenha. Demorava mais pra acender, mas permanecia.
Com o tempo, aprendi que, com o amor ou a amizade, assim deve ser. Nada de fogo rápido. Aos poucos. As brasas precisam nos aquecer aos poucos. O amor, para se saber amor, também, não pode ser de afogadilho.
Lembrar minha avó me faz bem. Foi ela quem me criou. Mas essa é outra história. Sou grato pelo tempo do cuidado e pelo tempo do preparo.
Não estava preparado para esse tempo. Ninguém estava, penso eu. Os pensamentos se perdem nas inseguranças. Quanto tempo ainda ficaremos assim? Como resolveremos coisas práticas? Contas que precisam ser pagas. Trabalhos precisam ser retomados. As carências que já existiam, antes, ganharam mais força. E nada de abraços.
Ouço o barulho de quem está sozinho reclamando da solidão. E ouço o barulho de quem está acompanhado reclamando da companhia. Os insatisfeitos povoam o mundo com suas ausências de sorriso. Nos ausentamos de nós mesmos, nesses tempos que vieram antes do tempo da reclusão. O que hoje nos falta, ontem, não valorizávamos.
O ontem nos importa para saber de onde viemos. Mas é para onde vamos que deveríamos gastar os pensamentos. O que será do mundo amanhã? Voltaremos aos mesmos equívocos? Nos esqueceremos com pressa do que passamos?
Fiquei com vontade de ir ao quintal. E ver os barulhos das flores nascendo. Fiquei com vontade de ter esperança. Tudo o que vejo dos barulhos das vozes que se desentendem me desanima, mas, quando olho o que nasce, é outro o sentimento que me toma. Falo das árvores que adornam as cidades de gentilezas e falo dos poetas. Um deles, certa vez, vaticinou: "Cada criança que nasce é uma prova de que Deus não perdeu as esperanças na humanidade".
Estou em casa, acompanhado.
(Gabriel Chalita)

01) Justifique os sentimentos revelados pelo autor do texto.

02) Você acha que a humanidade é realmente frágil?

03) Como o Coronavirus mudou a vida das pessoas?

04) O Coronavirus juntou ou separou as pessoas? Dê seu ponto de vista.

05) Explique o porquê de: “ As carências que já existiam, antes, ganharam mais força. E nada de abraços.”

06) O que se pode entender por... quem está sozinho reclamando da solidão. E ... quem está acompanhado reclamando da companhia.

07) O que significa: Os insatisfeitos povoam o mundo com suas ausências de sorriso.

08) Que sentimento o texto despertou em você? Por quê?
09) Deus perdeu ou não as esperanças na humanidade"? Por quê?
10) Reflita e tente responder aos questionamentos sugeridos no texto.


Preciso de ajuda alguém mim ajuda por favor

Answer 1

Vou responder somente as que sei, quero ajudar no que eu posso :)

1°) Ele sente essas coisas por toda a pressão que o vírus está causando.

Com o isolamento social, a solidão é um sentimento que temos muito, e começamos a refletir sobre diversas coisas.

3°) Já respondida.

4°) Juntou e separou.

Juntou no sentido de nos unirmos contra o vírus, seja se higienizando, nos cuidando, se prevenindo em geral.

Separou no sentido de estarmos juntos fisicamente, pois precisamos do isolamento social para a diminuição do contágio.

5°) Antes os abraços não eram tão frequentes, mesmo sendo possíveis, agora com o coronavírus, eles não são mais possíveis, pela mesma questão: o contágio.

6°) Quem está acompanhado, está reclamando da companhia por causa do risco de contágio.

Enquanto a quem está sozinho, está reclamando do isolamento social, por não poder ver amigos, etc.

Algumas questões eu achei pessoais, e outras eu não consegui responder, mas espero ter ajudado em algo :)