Estátua de ativista negra substitui a de traficante de escravos no Reino Unido
Monumento homenageia Jen Reid, manifestante fotografada sobre pedestal que antes tinha estátua de Edward Colston Depois de ser derrubada durante atos antirracistas em Bristol, no Reino Unido, a escultura de Edward Colston, traficante de escravos do século 17, foi substituída nesta quarta-feira (15) pela estátua de uma mulher negra com o punho erguido no ar. O novo monumento homenageia Jen Reid, manifestante fotografada sobre o pedestal onde ficava a estátua de Colston. No início de junho, a imagem do escravocrata foi derrubada e jogada em um rio. De acordo com o jornal The Guardian, a obra é de autoria do artista britânico Marc Quinn, que planejou a substituição secretamente durante as últimas semanas. Em uma operação relâmpago antes do amanhecer, uma equipe de dez pessoas chegou ao local em dois caminhões às 5h. Quinze minutos depois, a nova estátua já estava posicionada e acompanhada de um cartaz em que se lia "black lives still matter" (vidas negras ainda importam). A frase faz referência ao slogan do movimento contra o racismo que ganhou novo fôlego após o assassinato de George Floyd, homem negro morto por um policial branco nos Estados Unidos, no final de maio. O crime, filmado e divulgado em redes sociais, deu origem a uma onda de protestos em milhares de cidades dos EUA e também em países de Europa, Ásia e Oceania. "Quando eu estava lá no pedestal e levantei meu braço, em uma saudação do movimento Black Power, foi totalmente espontâneo. Era como se uma carga elétrica estivesse passando por mim", disse Reid em uma declaração conjunta com Quinn, divulgada pelo artista nas redes sociais. "Meus pensamentos foram para as pessoas escravizadas que morreram nas mãos de Colston e para lhes dar poder. Eu queria dar poder a George Floyd, queria dar poder a negros como eu, que sofreram injustiças e desigualdades." Estima-se que a Companhia Real Africana, empresa com a qual Colston estava envolvido, transportou mais de 84 mil homens, mulheres e crianças para serem escravizados nas Américas e no Caribe. Dados históricos o relacionam às mortes de cerca de 19 mil negros escravizados no século 17. Ainda assim, Colston dá nome a pelo menos 20 estradas em Bristol, além de escolas, prédios e hospitais. A estátua do traficante foi retirada do rio e, de acordo com autoridades locais, está sendo restaurada para depois ser exibida em um museu ao lado de cartazes do movimento Black Lives Matter. O objetivo é que a história de 300 anos de escravidão e a luta pela igualdade racial possam ser melhor compreendidas. A substituição pela estátua de Jen Reid, entretanto, foi feita sem autorização da prefeitura. Segundo o artista responsável pela obra, a nova estátua não foi planejada como uma solução permanente, e sim como uma forma de atrair atenção contínua ao movimento antirracista. "Queremos continuar destacando o problema inaceitável do racismo estrutural e institucionalizado que todos têm o dever de enfrentar", escreveu Quinn. "Essa escultura precisava acontecer no domínio público agora: essa não é uma questão nova, mas parece que houve um ponto de inflexão global. Agora é a hora de uma ação direta." Uma onda de questionamentos impulsionada pelos atos após o assassinato de Floyd transformou em alvo outras estátuas de figuras históricas consideradas racistas. Nos EUA, os alvos foram imagens de militares que fizeram parte do Exército Confederado, lado da Guerra Civil americana que defendia a manutenção da escravidão. A presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, exigiu que 11 estátuas de confederados sejam removidas do Capitólio, sede do Legislativo americano. Estátuas de Cristóvão Colombo também foram atacadas. Uma foi incendiada e jogada em um lago em Richmond, na Virgínia. Outra, em Boston, foi decapitada. Em Londres, a estátua de Robert Milligan, que chegou a ter 526 negros escravizados em suas duas fazendas de plantação de açúcar na Jamaica, foi removida pelo Museu das Docas. Na Bélgica, ganhou força uma campanha já antiga para tirar de cena monumentos do rei Leopoldo 2º, e um busto do monarca que colonizou o Congo (atual República Democrática do Congo) foi para o depósito na Universidade de Mons.
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