Essas músicas juninas doem aqui dentro, fundo e irreparavelmente. Já expurguei minha modesta discoteca dos discos antigos, mas evitar quem há de? A gente passa pelas ruas e há sempre a vitrola berrando as canções de outros tempos e outras saudades.
“Cai, cai balão,
não deixa o vento te levar...”
A música é triste, feita pelo homem triste que acabou se matando, o Assis Valente, autor daquela canção de Natal que também é a coisa mais triste dos natais. Mas deixemos o Natal, que longe está, e enfrentamos com mão crispada este junho sem balões e sem fogueiras, este junho de apartamentos e compromissos.
“A ventania
de tua queda vai zombar,
cai, cai balão
não deixa o vento te levar...”
Não há ventania por ora, e tudo parece sólido. Mas a canção despejada no fim da tarde me surpreende na rua, cheia de gente apressada em busca de condução para casa. As luzes já estão acessas e ninguém estanca para ouvir a canção. Só eu tenho tempo e motivo de parar e olhar o chão, em busca de raízes insepultas e dolorosas.
As canções de carnaval não doem tanto. Não sou lá de carnaval, suas músicas passam e pouco me marcam. Mas em junho, a infância retorna inteira, trazida nas mesmas canções e gostos. E não só a infância. Agora, já começa a nascer a nostalgia de outras infâncias: as garotas crescem e, ao invés de gastarem o São João ao meu lado, preferem as festas onde acabam dançando tuíste.
E este ódio vem subitamente à tona com a música que a casa comercial despeja cruelmente sobre nossas cabeças. Não há de ser nada, não há de ser nada, a música acabou e começa outra, esta mais alegre, embora inclemente em seu significado:
“Com a filha de João
Antônio vai se casar...”
(...)
(CONY, Carlos Heitor. Um caso triste. In: SALES, Herberto (org.).
Antologia escolar de crônicas: 80 crônicas exemplares. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, N/C)
Caso adicionássemos “Acredito que” à primeira oração do penúltimo parágrafo – “As canções de carnaval não doem tanto” –,teríamos de modificar o verbo, segundo a norma padrão, para
A
“doam”.
B
“doessem”..
C
“doerem”.
D
“doeram”
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Explicação:
doam
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