Escrever é a única maneira de viver, não a minha vida, esta vida que me escapa por entre os dedos a cada gole da minha sede. Escrever é escreviver outras vidas, em outras dimensões, tempos paralelos.
Escrever é a única louca esperança dentro de um manicômio... E fora dele também.
Escrever é deixar no papel a impressão digital do ser que somos.
Escrever é descrever o que pressentimos, o que dizem os nossos cinco sentidos, mesmo que não faça o menor sentido.
Escrever é sempre tarde, é sempre cedo, é sempre na hora certa.
Escrever é algo de que se tem necessidade, é algo de que não se tem necessidade alguma.
Escrever é incurável.
Escrever é sempre viver o sucesso no fracasso, a alegria de poder estar triste, o nunca do sempre, o infinito do finito, o absolutamente relativo.
Escrever é ato de amor, intimidade exposta, introspecção devassada, solidão solidária.
Escrever é falar com quem não vemos, ouvir quem nada nos diz, conversar com quem nos despreza, aprender com quem nada ensina, ensinar coisas a quem não quer aprender nada.
Escrever é catarse, é espionagem, é propaganda enganosa, mistério da fé, é terapia para todo mundo.
Escrever é recordar o que não aconteceu, prever a nostalgia, admirar-se com o banal.[...]
Escrever é testemunhar, é mentir, é revelar, é engrupir, é purificar-se, é resistir, é matar, é assumir, é transladar, é omitir, é calar, é sorrir.
Escrever é vício, é adiar a morte, é “um ócio trabalhoso”, como disse Goethe.
Escrever é fugir, é voltar, é abrir uma janela, é fechar-se em casa, é queimar a casa, é reconstruir a casa, é pregar-se na cruz, é ressuscitar, é recriar o mundo.
Escrever nos torna mais humanos. Nem por isso mais virtuosos. Escrever é roer os ossos do medo. Repudiar a felicidade como facilidade. É inspirar-se quando não há inspiração. É pintar, musicar, teatralizar, filmar, esculpir, dançar.
Dançar com as palavras é a dança mais vã — no entanto dançamos mal rompe a manhã.
Conforme a música, conforme a dúvida.
Sempre inconformados.
Engrupir:enganar, iludir.
Transladar:traduzir, dar sentido figurado.
Sobre o Autor
ImageGabriel Perissé: Gabriel Perissé é professor universitário, escritor e palestrante. Doutor em Filosofia da Educação pela USP, publicou em 2003 o livro Filosofia, Ética e Literatura - uma proposta pedagógica, em 2004, A Arte de Ensinar, e em 2005 o livro Elogio da Leitura, pela Editora Manole. Desde 1983, ministra palestras e cursos em escolas, faculdades, empresas, ongs, livrarias, bibliotecas e editoras, sobre temas relacionados à arte de ler, pensar, escrever e ensinar.
PARA COMPREENDER,REFLETIR E PRODUZIR
1.Como o texto trata o ato de escrever: objetiva ou subjetivamente? Justifique.
2.Que tipo ou gênero textual permite”[...] escreviver outras vidas, em outras dimensões, tempos paralelos.” Por quê?
3.A modalidade da língua utilizada no texto é padrão ou não padrão?
4.Gabriel Perissé afirma no texto que “escrever é deixar no papel a impressão digital do ser que somos.”
a)O que se pode entender dessa afirmação?
b)Com base nas informações sobre o autor e no texto lido, deduza algumas “impressões digitais” características do autor.
5.Liste algumas atividades em que a escrita é indispensável.
6.Na sua opinião, que conhecimentos são necessários para se redigir um bom texto?
7.Você acha que escrever é uma habilidade nata ou é algo que pode ser aprendido?
Soluções para a tarefa
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Resposta:
oiii minha irma se chama Gabriela também
.
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