Escreva um texto sobre pacto social e como evitar a guerra de todos contra todos
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A guerra de todos contra todos e a luta pela vida em Thomas Hobbes
Bruno Aparecido Nepomuceno
Na sociedade atual, alguém que não admita que todos os seres humanos sejam iguais perante a lei e, que, também, têm os mesmos direitos (o que chamaríamos de universais) seria certamente taxado de louco e/ou preconceituoso. Dessa forma é preciso estar concorde também que todo homem, por natureza, é igual; tem em si os mesmos princípios que caracterizam sua constituição corpórea e psíquica, bem como seus desejos e impulsos. Mas, como no mundo há uma infinidade de coisas que o compõe além do homem e que a ele atraem, seus desejos podem guiá-lo para a vontade de aquisição dessas diversas coisas.
Não obstante a multiplicidade de coisas e desejos, pode acontecer – e nada mais normal que isso – que coincida em dois ou mais homens o desejo por uma mesma coisa. Nesse instante é que se instaura um impasse difícil de resolver-se. Se os dois – ou três, ou seja, lá que número for – têm os mesmos direitos sobre a dada coisa, como pensar uma resolução para a essa querela de forma que agrade todas as partes interessadas?
É aqui então que entra o nosso ponto de discussão. Como é a condição humana antes do estabelecimento de um estado civil, regido por leis e, o que há no homem que não o faz partir imediatamente para a instauração geral de uma guerra até conseguir o que quer, uma vez que vê em seus iguais concorrentes e já que “nesta situação é impossível consentir a felicidade, porque todos vivem perseguidos pelo temor de serem atacados uns pelos outros” (MONDIN, 1981, p.100)?
Thomas Hobbes, filósofo inglês moderno, reservou boa parte de suas principais obras Do cidadão e Leviatãpara expor seu pensamento sobre este assunto. Relatou em sua autobiografia que, quando nasceu, sua mãe dera à luz junto com ele seu irmão gêmeo: o medo (REALE, 1990, p. 483). Talvez quisesse com essa brincadeira dizer que nem ele mesmo havia escapado da herança de todo homem, o temor de perder a própria vida. O princípio de autoconservação humana é regido pelo medo que cada um tem da morte numa possível guerra.
Essa é a situação dos homens no estado de natureza[1] em que tudo lhes parece ameaçador; estado em que todos têm desejo e vontade de se ferirem, em que vivem em mútua desconfiança, fuga, cautela em suas falas e ações e até mesmo, em certas situações, ameaças e ataques. Destarte,
(…) a causa do medo recíproco consiste, em parte, na igualdade natural dos homens, em parte na sua mútua vontade de se ferirem – do que decorre que nem podemos esperar dos outros, nem prometer a nós mesmos, a menor segurança.(HOBBES, 2002, p. 29).
Disso não concluímos necessariamente que o homem nasce mau, ou que recebeu uma espécie de perversidade de sua natureza. Não está inscrito nele a vontade de fazer o mal pelo mal, ou até mesmo o bem pelo bem. Ele somente tenta fazer o melhor para si, o que melhor possa lhe agradar. Para isso foge dos perigos que o cerca e ataca quando preciso. O que não é necessariamente motivo para imputá-lo como perverso, cruel ou malvado. Para ele está determinado que “é bom o que causa prazer, mau o que faz sofrer” (MONDIN, 1981, p.100).
Eis, portanto o homem diante de sua pobre condição. Está ele ciente de que só será dono do que conseguir por suas próprias forças, de que está sozinho na luta pela vida, de que os outros à sua volta podem lhe prejudicar a qualquer momento e de que ele só “vale o quanto vale por si, sem ajuda dos outros.” (HOBBES, 2002, p. 28). Querendo se libertar de tal miséria instaura um tempo de guerra!
Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e sua própria invenção. Numa tal situação não há […] sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária; pobre sórdida, embrutecida e curta.(HOBBES,1979, p.76)
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