escreva um relato pessoal de 15 a 25 linhas mostrando a visao do jovem brasileiro sobre a pandemia
Soluções para a tarefa
Resposta:
Não existem formas erradas de se lidar com tragédias, com exceção de todas as formas desumanas. Isso quer dizer o óbvio, de que a dor, o medo, o desespero, o sofrimento, a renitência, a decência, a coragem, a covardia, o luto, a delicadeza, a leveza, a resiliência, a esperança… todas essas e tantas outras são formas humanas de enfrentar o caos, o absurdo, a morte e tudo aquilo que nos atravessa e que nos tira das mãos o comando. Não há, portanto, formas erradas de responder à pandemia, com exceção de todas as formas que negam nossas limitações e agem como se nada fosse, como se fôssemos desumanos.
Dito isso, e com a terrível consciência de que nossa sociedade brasileira, em muitas esferas públicas e privadas, insiste em abusar de todas exceções, podemos apenas admitir que vivemos num Estado de exceção. Sem meias palavras, sem concessão às metáforas: vivemos sob um regime de exceção. Isso não é de agora, é claro, atravessamos séculos sob o julgo do mandonismo e o do autoritarismo, da confusão entre público e privado, da recusa às leis comuns e, portanto, do descaso com o pacto social. É preciso que se diga que todo o mundo padece da pandemia, mas nós brasileiros também enfrentamos uma peste.
É essencial que reconheçamos essa distinção não como um jogo de palavras, mas de conceitos. Pois o vírus, assim como as bactérias ou fungos são formas de vida. Vidas que podem ou não se harmonizar com as nossas. Vida indesejada, no caso da recente pandemia do coronavírus. Mas, ainda sim, vida que viceja, brota e se multiplica até morrer. E a morte é parte incontornável da vida.
Já a peste é o próprio mal, aquilo que é indiferente à vida, cuja força motriz lhe serve para desfazer todas as forças motrizes, incluindo a própria. O mal, a peste, é a indecência desumana e a ruína que leva ao nada. O mal separa a profunda ligação entre morte e vida que há em todos os organismos, e provoca uma espécie de apatia espessa que apenas corrói e corrói até que apenas o pó se esfregue no pó e enfim tudo desapareça. Em Fausto, Goethe nos mostra que Mefistófeles não é a crueldade ou outra face obscura que carregamos, mas a destruição de qualquer vida possível.
Uma das tarefas humanas mais difíceis é de se deparar com a tragédia, com o absurdo da vida, aquilo que nos cobra um grau de aceitação maior do que gostaríamos de lhe ceder. É o que mais nos aproxima da ideia de Destino, de caminho do qual não podemos fugir. É uma tarefa que nos lembra que a vida não contém nenhum valor absoluto ou sentido intrínseco, mas que ainda sim temos que caçar jeito de nos levantarmos todos os dias, com honestidade e dignidade, e enfrentá-la.
Quantas mulheres e quantos homens têm feito isso nessa pandemia. Quantos têm se lembrado de que a vida é maior que cada um de nós, que ela é capaz de apresentar tarefas para as quais não estávamos preparados, pintando o presente e o futuro de trevas, mas que nem por isso vamos abrir mão de nossos valores e nossa ética. Mesmo humilhados por um ser invisível aos nossos olhos, a maior parte das pessoas segue a vida honestamente, porque a dignidade não está em ser forte, mas em recomeçar todos os dias.
Algumas dessas pessoas, há meses ou há anos, confiam à minha escuta psicanalítica e humana partes significativas de suas vidas. Com um sentimento sempre de gratidão, aprendizado e honra, eu me encontro presencial ou virtualmente com elas semanalmente para a tarefa que nos cabe: suas análises individuais. Algumas moram na minha cidade, São Paulo, outras em diferentes cidades ou Estados do Brasil, as demais em países diversos. São todos brasileiros. No começo da pandemia, pensei em cada um deles com preocupação, a mesma que votei a mim. Sei que uma das características da tragédia é ela nos atingir de roldão, sem aviso, e convocar em nós a criatividade, pois não temos frente a ela nenhum recurso pronto. Imaginei que assim também essa pandemia me atingiria e a todas as pessoas que acompanho. Mas como todos reagiríamos?
E foi a criatividade, na sua mais diversa expressão humana, que encontrei em mim e nas pessoas que escuto. A decência, a honestidade e dignidade de redescobrirem a vida e o pacto de suas próprias vidas com as alheias. A análise é um lugar de encontro com a verdade interior, e essa verdade pode ser dura e crua, mas é costumeiramente libertadora. Mas como se ocupar apenas do interior, da vida da alma, quando o mundo se transforma lá fora? Pois é claro que nesse momento a análise também seria um convite para olhar para fora, para o coletivo, para o compromisso com o social.
Pois então resolvi escutar mais de algumas dessas pessoas que acompanho e lhes fiz um convite. Selecionei as que pareciam mais instigadas pelo momento, as que me pareciam estar querendo elaborar ainda mais o que viviam e a compartilhar suas experiências comigo e com outros.