escreva um parágrafo de no mínimo cinco linhas relatando suas considerações sobre o conto "Cabeleira" de Miguel sanches neto.
Soluções para a tarefa
CABELEIRA
Meu pai, ainda chorando, me disse vá e corte o cabelo. Tentei ficar com ele mais algum tempo,embora continuasse repetindo vá e corte o cabelo. Mesmo de olho fechado ou arrumando as flores docaixão ou trocando as velas gastas ou comendo pão com carne moída e tomando café frio ele só repetiavá e corte o cabelo. Durante a noite toda eu ouvi esta ordem sem poder cumpri-la. Tive que esperar o dianascer para encontrar alguém que estivesse disposto a tosar meus cabelos loiros e encaracolados quedesciam até perto da cintura. O pai dizia que meu cabelo tinha o tamanho do sofrimento da mãe e que erahora de cortá-lo bem curto. O mais curto possível. Acredito que ele queria que eu rapasse a cabeça, nãodeixando nenhum vestígio desta obscena cabeleira, como dizia minha avó.Eu também queria acabar com ela, pois todo mundo se divertia com meu aspecto. Os poucosamigos me chamavam de maricas e isto fere muito a gente. Papai tinha consciência de que eu estavasofrendo por algo que não era responsabilidade de ninguém e ficava triste.Foi então que ele me disse, enxugando as lágrimas com as fraldas da camisa, vá e corte o cabelobem baixinho, meu filho. E eu esperei até amanhecer, porque não havia ninguém que pudesse cortá-lo.Mas o pai não compreendia esta diferença entre dia e noite, só desejava que eu cortasse o cabelo e entãodizia, entre bravo e desanimado, vá e corte, e eu não podendo, por algum tempo, fazer aquilo que maisdesejávamos.Quando mamãe ainda tinha forças, eu me sentava em sua cama e ela, recostada em almofadas,me penteava. Nessas horas, era bom ter tão vasta cabeleira que necessitava de cuidados e carinhos. Amãe, de certa maneira, se sentia culpada pela deformação de meus traços masculinos. Eu nunca tinha idoà escola, mesmo já tendo doze anos, para não ser motivo de gracinhas. Uma prima mais velha meensinou a ler e escrever em casa. Mesmo assim, sempre havia alguém para importunar.Foi então que o pai disse vá, menino, e corte essa porcaria que não resolveu nada. Enquanto o dianão clareava, tive que ouvir a mesma ordem, como um disco que repete uma única faixa. Quando aspessoas vinham lhe dar os pêsames ou perguntar sobre os preparativos para o enterro ou se informarsobre a localização do banheiro ou pedir maiores detalhes sobre a morte ou exigir que se consolasse, opai apenas repetia, mesmo que eu não estivesse por perto, vá e corte, ou, esse cabelo é o sofrimento delae você não tem o direito de me fazer lembrar de tudo novamente, ou, vá, corte este emaranhado de dias edores.O pai não entendia que para mim os cabelos longos tinham um duplo