História, perguntado por angellinda46, 1 ano atrás

Escreva sobre as lutas. Pela consolidação da independência

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Respondido por CryCandy
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Ao encobrir o processo histórico real e concreto que ocorreu entre o final do século 18 e início do 19, esta forma de ver transmite a idéia de que a Independência ocorreu sem luta (ou quase sem) devido à atribuída “índole pacífica” do povo brasileiro, e esconde a participação popular na luta pela independência sob o argumento falacioso de que não havia povo no Brasil (como se isso fosse possível!). Ou de que a luta se resumiu ao confronto no plano político com Portugal, desconsiderando as contradições que existiam dentro da própria classe dominante brasileira a respeito dos rumos da nova nação.

A história concreta mostra uma realidade muito mais complexa. Dentre as nações sul americanas o Brasil foi o primeiro a ter um governo autônomo. Desde que a família real portuguesa fugiu de Lisboa, fugindo das tropas napoleônicas, e estabeleceu a capital no Rio de Janeiro, o Brasil passou a ser a sede de fato da monarquia. A historiografia convencional costuma enxovalhar a figura de D. João VI, se considerar as medidas que tomou, no Brasil, para a construção da máquina estatal necessária para o governo – incluindo entre outras coisas a criação do Branco do Brasil, a instalação de uma fábrica de pólvora para a defesas nacional, a instalação dos tribunais superiores de Justiça, de academias militares, da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, do Jardim Botânico e da Biblioteca Nacional, da Imprensa Régia e por aí vai.

Naquela época prevalecia, entre a classe dominante brasileira a tese da união com Portugal, fortalecida pela elevação do Brasil à categoria de Reino Unido, em 1815. Esta idéia permaneceu até praticamente o início do segundo semestre de 1822 e não é dificil compreender porque. O Brasil era um país escravista, com uma enorme massa escrava obrigada ao trabalho forçado nas fazendas, nas minas e mesmo nos ofícios urbanos. Ao lado dela vegetava a grande parcela da população formada por pessoas livres mas pobres, afastadas dos meios de vida regulares pois no escravismo não pode haver, por definição, um mercado de trabalho – o que havia era o mercado de escravos - e aquela parcela livre e pobre não podia vender sua força de trabalho, como ocorre no capitalismo. 

Estes dois segmentos da população - a massa escrava e os livres mas pobres - representavam a grande ameaça temida pela classe dominante, sendo corriqueira sua descrição, em livros de história ou de memórias, como uma perigosos e turbulentos, que punha em risco a ordem social. O governo da monarquia, sediado em Lisboa ou no Riuo de Janeiro, representava por isso uma garantia de segurança para o segmento dominante. Existiam também preconceitos políticos e ideológicos nessa forma de pensar: a ilusão aristocrática de fazer parte de uma unidade política “europeia” e, assim, distante do caudilhismo das demais regiões da América.

A defesa de um hipotético reino luso-brasileiro mal escondia, contudo, as contradições entre a colônia e a metrólole, que eram crescentes desde pelo menos meados do século 18. Os comerciantes que operavam nos portos brasileiros, dedicados sobretudo ao tráfico de escravos, desenvolveram-se como uma autêntica burguesia comercial cuja riqueza ajudava a financiar as despesas da monarquia. Desde muito tempo negociantes de portos como Recife, Salvador, Rio de Janeiro ou Santos dominavam o comércio marítimo da Colônia com outras partes do império português e o contrabando com as partes espanholas da América do Sul (principalmente com a bacia do Prata e com o Peru). A ponto do governo portugues reclamar, em 1770, da “total exclusão” de comerciantes portugueses nesse verdadeiro comércio triangular, como o designa José Honório, cujo centro era o Brasil, “unindo-se à África e à Ásia, sem participação portuguesa” (José Honório Rodrigues. Brasil e África, outro horizonte, 1982).
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