Sociologia, perguntado por JUBISCREUDIO, 4 meses atrás

escolham uma manifestação cultural local e realizem uma etnografia sobre este
evento.


JUBISCREUDIO: AJUDA PFVV

Soluções para a tarefa

Respondido por rianyoliveira206
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Resposta:

Cantadores, dançadores e a brincadeira

A grande maioria dentre os dançadores e cantadores contatados encontra-se na condição de trabalhador pobre, e parcela significativa em situação de pobreza absoluta, o que ocorre com a maioria dos negros brasileiros e seus descendentes.

Tanto em bairros da periferia da capital, quanto em cidades do interior da Paraíba, a equipe de pesquisadores encontrou dançadores, mestres e cantadores morando em casebres de taipa, muitos sem luz elétrica, sem água tratada, alguns sem cadeiras ou tamboretes, sem panela de metal (ferro, alumínio ou lata), demonstrando o estado de privação em que (sobre)vivem.

Problemas de moradia (não ter posse da terra, não ser proprietário da casa) são comuns, a ponto de integrantes da equipe terem ouvido, em uma das localidades visitadas, um cantador dizer "Fulano é o nosso proprietário", referindo-se ao dono da terra.

Sem as garantias mínimas de cidadania é muito difícil ter autonomia para desenvolver atividades culturais independentemente de interferências de grupos de poder proprietários rurais e políticos.

Por relatos dos entrevistados e dos pesquisadores foi possível detectar a que ponto a dança é discriminada e porque muitos jovens, embora saibam, não querem dançar o coco.

Dançadores e cantadores revelam-se magoados por presenciarem a perda de interesse pela dança, tanto pelos mais velhos, quanto pelos jovens. A dança muitas vezes é depreciada por quem não integra o conjunto de dançadores e cantadores sendo considerada atividade de "preto velho, sem vergonha, pobre e cachaceiro". Por isso, várias pessoas que apreciam a dança e o canto afastam-se da manifestação com medo da discriminação.

Muitos dos entrevistados demonstraram em seus relatos uma valorização do passado do tipo "antes era mais animado; hoje ninguém se interessa". A valorização do passado é procedimento muito comum em relatos sobre cultura, e em particular, sobre cultura popular. No caso dos cocos, a manifestação passa por um processo de mudança. Desses entrevistados, vários se submeteram à migração interna. Ao se deslocarem de uma cidade para outra, lá encontraram pessoas com histórias semelhantes, que também tinham as mesmas preferências culturais. Neste sentido, os cocos serviam como elemento integrador e também como componente de uma afirmação de identidade cultural. O mesmo não ocorre com os componentes da nova geração. Os filhos e netos dos dançadores, além de não terem vivido experiência semelhante de migração, bem ou mal encontram-se integrados (no emprego, na escola, nas atividades de lazer hoje comuns a todos os jovens na zona rural ou urbana, entre eles assistir a programas de TV, ir a forrós, acompanhar as danças da moda como lambada, funk, ter preferência por músicas tocadas no rádio e repetidas infindavelmente nos aparelhos de som particulares). Quando participam das atividades culturais populares como a brincadeira do coco, desenvolvidas nas comunidades onde moram, muitos jovens reagem temendo, depois, a ridicularização feita por colegas da escola. Aceitam participar de apresentações públicas quando dançadores e cantadores são caracterizados como grupo folclórico, o que possibilita, às vezes, ver suas imagens veiculadas pela televisão.

Dançadores e cantadores de todas as idades adoram ser fotografados e filmados. Também não se mostram inibidos diante dos gravadores. Sentem-se valorizados. Quando há alguma forma de registro, em especial fotos, os jovens enchem a roda. Há um desejo muito grande de ser visto, de não ser anônimo. Mas no dia-a-dia, sem pesquisadores por perto, o interesse parece não ser o mesmo em todas as localidades visitadas. Quando os cocos são considerados como dança de velhos fica difícil a reprodução do sistema cultural; se os jovens não participam continuamente de alguma forma (aprendendo a dançar, a cantar, a tocar), prejudica-se a continuidade da manifestação.

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