Era nessas ocasiões que eu não podia deixar de notar e admirar (embora já estivesse preparado, por suas afirmações variadas e inteligentes observações, a esperar por ela) uma habilidade analítica peculiar em Dupin. Ele parecia, também, ansiar por ela e extrair o maior prazer em exercitá-la – ou, talvez mais exatamente, em exibi-la – e não hesitava em confessar o prazer que experimentava. Ele se gabava, com uma risadinha baixa e discreta, de que podia ler as intenções e pensamentos da maioria dos homens, como se tivessem janelas no peito; e tinha o costume de acompanhar estas assertivas com provas diretas e bastante assombrosas do seu conhecimento íntimo de meus sentimentos.
Nestes momentos, seu aspecto era frígido e abstraído; seus olhos mostravam uma expressão vazia; e sua voz, geralmente ostentando um belo timbre de tenor, subia para um trêmulo que teria parecido resultado de atrevimento e petulância se não fosse pela deliberação e completa distinção com que era enunciada. Ao observá-lo quando se achava nesta disposição, muitas vezes me recordava meditativamente da velha filosofia da alma bipartida e me divertia a fantasiar a existência de um duplo Dupin – o criativo e o investigador.
POE, Edgar Allan. Assassinatos na Rua Morgue e outras histórias. Trad. William Lago. L&PM Pocket, Edição digital Kindle, Posição 1075.
Neste fragmento, o narrador descreve seu amigo, personagem central do conto “Assassinatos na Rua Morgue”. Dentre as características de Dupin, ele destaca:
A
a duplicidade (alma bipartida) dos detetives modernos, que combinam a capacidade de raciocínio com a ação corajosa no enfrentamento dos criminosos.
B
a excentricidade e o exibicionismo típicos dos detetives modernos, combinados com o atrevimento e a petulância dos detetives clássicos.
C
a habilidade de análise e dedução dos detetives clássicos, que solucionam os casos só por meio da observação de indícios e do raciocínio.
D
as capacidades parapsicológicas (fora da normalidade das leis da natureza) típicas dos super-heróis modernos das narrativas policiais.
E
a capacidade telepática (de leitura de “intenções e pensamentos), que inclui este conto entre as narrativas fantásticas do autor.
Soluções para a tarefa
Resposta:
A alternativa C está correta, pois reconhece na descrição feita pelo narrador a principal característica dos detetives clássicos, de acordo com o modelo criado pelo próprio Edgar Allan Poe, considerado iniciador do gênero narrativa policial.
A alternativa A define corretamente o típico detetive moderno, mas Dupin é um detetive clássico e o texto não se refere ele a como um homem corajoso em luta com criminosos. A alternativa B também é incorreta porque a excentricidade é característica mais evidente nos detetives clássicos, e o atrevimento, nos modernos; o exibicionismo e a petulância podem ser características de algum detetive, mas não distinguem os clássicos dos modernos. As alternativas D e E estão incorretas porque nem os detetives clássicos nem os modernos se caracterizam por poderes fantásticos; são indivíduos normais, que se distinguem por grande inteligência dedutiva e/ou grande capacidade de ação. O narrador não descreve as habilidades intelectuais da personagem como extraordinárias (no sentido de fora da normalidade da leis naturais): parapsicológicas (D) ou, mais especificamente, telepáticas (E).
Explicação:
Resposta:
Alternativa C
Explicação:
Resposta Plurall.