ENEM 2009
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In. PINTO, Manuel da Costa. Antologia comentada
da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.
É próprio da poesia de Manoel de Barros valorizar seres e coisas considerados, em geral, de menor importância no mundo moderno. No poema de Manoel de Barros, essa valorização é expressa por meio da linguagem
a.
denotativa, para evidenciar a oposição entre elementos da natureza e da modernidade.
b.
rebuscada de neologismos que depreciam elementos próprios do mundo moderno.
c.
hiperbólica, para elevar o mundo dos seres insignificantes.
d.
simples, porém expressiva no uso de metáforas para definir o fazer poético do eu lírico poeta.
e.
referencial, para criticar o instrumentalismo técnico e o pragmatismo da era da informação digital.
Soluções para a tarefa
Resposta:
Alternativa correta: d) simples, porém expressiva no uso de metáforas para definir o fazer poético do eu lírico poeta.
Explicação:
A linguagem da poesia não é denotativa (A) ou referencial (E), pois não se relaciona, respectivamente, com o sentido literal das palavras e com a representação do mundo com foco no próprio mundo, mas, sim, na visão que o autor tem em relação a ele.
Em relação às alternativas (B) e (C), “rebuscada” e “hiperbólica” não são características da poesia de Manoel de Barros. O autor é sempre muito claro em sua escrita, mesmo que neologismos e metáforas estejam presentes em suas obras.
O Gabarito da questão encontra-se na letra D. Para responder essa questão é importante lembrar dos conceitos de função referencial e também das figuras de linguagem.
No poema de Manoel de Barros nota-se uma linguagem simples, que se aproxima do cotidiano, também encontra metáforas que dão base ao pensamento do poeta para estabelecer comparações entre o tema e o seu texto.
Além disso, não se pode caracterizar o poema na função referencial, pois ele não narra fatos de maneira objetiva, mas sim coloca a visão pessoal do autor em relação ao tema (a valorização das coisas e das pessoas).
O que é metáfora:
A metáfora, nada mais é do que uma comparação implícita, usada em diversos tipos de texto para dar mais expressividade ao que deseja ser dito.
Exemplos:
- Maria tem coração de pedra
- Fernando é um gato
- Minha avó tem cheiro de lavanda
A Função Referencial:
Essa função tem como principal objetivo informar ou referenciar um acontecimento, ela está diretamente ligada ao contexto dos gêneros informativos, em que o emissor narra um determinado fato com certo distanciamento de maneira objetiva
Encontramos exemplos de função referencial em:
- Materiais didáticos
- Textos jornalísticos
- Artigos científicos
Leia mais sobre funções da linguagem em: https://brainly.com.br/tarefa/51657547
#SPJ2