(ENADE, 2017) Leia os seguintes textos com atenção:
Texto 1:
Pechada
— Aí, Gaúcho!
— Fala, Gaúcho!
Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?
— Mas o Gaúcho fala "tu"! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
— E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são português.
O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
— O pai atravessou a sinaleira e pechou.
— O que?
— O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.
— O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
— Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
— E o que é isso?
— Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
— Nós vinha...
— Nós vínhamos.
— Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
"Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.
— Aí, Pechada!
— Fala, Pechada!
Crônica de Luis Fernando Verissimo, ilustrada por Santiago
Disponível em: Acesso em março de 2020.
Texto 2:
Todos sabem que existe um grande número de variedades linguísticas, mas, ao mesmo tempo em que se reconhece a variação linguística como um fato, observa-se que a nossa sociedade tem uma longa tradição em considerar a variação numa escala valorativa, às vezes até moral, que leva a tachar os usos característicos de cada variedade como certo ou errado, aceitáveis e inaceitáveis, pitorescos, cômicos etc.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: Uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2009. (Adaptado)
Questão 1 - LÍNGUA PORTUGUESA (928)
Código da questão: 62557
Considerando a imagem apresentada, os sentidos estabelecidos pelo texto 1 e a reflexão provocada pelo texto 2, conclui-se que a professora:
A)
identifica "pechada" como um caso de estrangeirismo na fala de seu aluno, incorporado à língua portuguesa como empréstimo aceitável da língua espanhola.
B)
identifica o fenômeno de variação situacional em nível lexical, ao compreender o contexto de uso dos vocábulos "sinaleira" e "auto".
C)
ignora a possibilidade de discutir o tema do preconceito linguístico com relação ao uso das variedades regionais.
D)
evita, ao abordar as variedades linguísticas do português brasileiro, que o estudante Rodrigo sofra preconceiro linguístico.
E)
explica os diferentes modos de falar de seus alunos conforme a ocorrência de variações morfológicas e sintáticas na fala de Rodrigo.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
c) ignora a possibilidade de discutir o tema do preconceito linguístico com relação ao uso das variedades regionais.
Explicação:
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1
Analisando os textos é possível concluir que a professora:
- Ignora a possibilidade de discutir o tema do preconceito linguístico com relação ao uso das variedades regionais.
O que é Preconceito Linguístico
Preconceito Linguístico é toda ação realizada com intenção de expor de forma negativa um indivíduo que apresenta uma variação linguística diferente de uma comunidade ao qual está integrado.
O preconceito linguístico é direcionado, normalmente, a indivíduos que:
- Fazem parte de classes sociais menos favorecidas;
- Pertencem a um grupo regional distinto àquele no qual se encontra;
- Possui menor acesso (ou nenhum) à educação, desconhecendo parcial ou totalmente a linguagem formal.
Podendo ser dividido em:
- Preconceito Socioeconômico
- Preconceito Regional
- Preconceito Cultural
Conheça mais sobre Preconceito Linguístico aqui: https://brainly.com.br/tarefa/5530287
#SPJ2
Anexos:
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