Em uma fazenda americana, nos anos 60, o garoto Frank Walker (Thomas Robinson) persegue o sonho de
inventar uma engenhoca capaz de fazê-lo voar. O pai lhe dá uma bronca por perder tempo com tal sandice. Seu primeiro
teste revela-se um doloroso anticlímax. Nem por isso Frank desanima. “Não vou desistir nunca”, diz. O filete de
autoajuda contido na frase é uma premonição do gosto que restará na garganta do espectador ao fim de Tomorrowland
(Estados Unidos, 2015). Na produção da Disney em cartaz no país, o personagem sonhador surge, já adulto, na pele de
George Clooney, para narrar os estranhos fatos que se seguiram à apresentação de sua máquina na Feira Mundial de
Nova York, em 1964. Na ocasião, o garoto é humilhado pelo chefe da comissão de novas invenções do evento, Nix
(Hugh Laurie). Mas a enigmática menina Athena (Raffey Cassidy) vê tudo e percebe que está diante de alguém especial.
O rumo da vida de Frank muda quando ela lhe dá de presente um item prosaico – um broche com a letra T. Ao passear
em um brinquedo que parece saído dos parques de diversões da Disney, ele atravessa o portal para outra dimensão: na
Tomorrowland do título, os cidadãos voam em versões modernosas de seu propulsor e aerotrens cruzam os ares em meio
à selva de edifícios high-tech. Corta para o começo dos anos 2000. Filha de um engenheiro da Nasa ameaçado de perder
o emprego com o ocaso da indústria espacial, a adolescente Casey Newton (Britt Robertson) vai para a cadeia após
invadir a base de Cabo Canaveral, na Flórida. Por vias misteriosas, um broche como o de Frank cai em suas mãos. Da
mesma forma que ocorrera com o garoto décadas antes, o artefato a transportará para a cidade futurista. Com um
empurrão da mesma menina enigmática, Casey se conecta ao adulto Frank, ao lado de quem tentará impedir um
cataclismo relacionado àquele mundo paralelo.
Tomorrowland deriva da ala futurista homônima que se pode visitar em vários parques da Disney – cujo espírito
também está na base do Epcot, em Orlando. A ideia de um futuro de arquitetura sinuosa e modalidades flamantes de
transporte era fixação do fundador da companhia, Walt Disney (1901-1966). No momento em que seu primeiro parque
está para completar sessenta anos, é curioso notar como envelheceu aquela noção de futuro – assim como tantas outras
desde os livros do francês Júlio Verne, que descreviam, com as lentes do século XIX, um mundo por vir. Apesar do
frenesi de videogame, Tomorrowland cheira a um compêndio de design retrô, com seus robôs e naves malucas. Como
fica explícito em sua ode à era da corrida espacial, o filme expressa um paradoxo: a nostalgia do futuro. Até porque o
futurismo dos parques da Disney foi assimilado na arquitetura pós-moderna de cidades como Dubai, Xangai ou Las
Vegas. Disney, enfim, ajudou a moldar o mundo de hoje – só que, no processo, seu futurismo virou item de museu.
Na verdade, o componente nostálgico é um fator de empatia do filme. O deslize está em outro detalhe: a
indecisão existencial. Tomorrowland fica a meio caminho entre a aventura juvenil e a distopia tecnológica à la Matrix.
Para os jovens, a pirotecnia não compensará o enfado com tanto papo-cabeça – o que talvez explique por que a produção
de 180 milhões de dólares decepcionou nas bilheterias americanas. Para os adultos, a causa da frustração será diversa:
sob a casca futurista, há um artigo requentadíssimo – a mensagem edificante de que as pessoas não devem se deixar
anestesiar diante da ameaça do aquecimento global e das guerras. Com essa conversa para robô dormir, nem os cabelos
grisalhos de George Clooney fariam algum filme ter futuro.
Marcelo Marthe. Veja, ed. 2429, ano 48, nº 23, 10 de jun. 2015. p. 110-111. Adaptado.
3. Com base nos elementos textuais e discursivos do texto, é CORRETO afirmar que o seu propósito comunicativo é,
fundamentalmente:
a) apresentar um resumo da história que compõe o enredo do filme Tomorrowland, para que o leitor tome conhecimento
do tema abordado.
b) divulgar o filme Tomorrowland, a fim de atrair aos cinemas um grande contingente de espectadores de um perfil
específico.
c) emitir, para um público especializado, uma opinião técnica sobre Tomorrowland, capaz de influenciar a produção
cinematográfica.
d) fazer a análise crítica de um objeto cultural (um filme), de modo a destacar suas características narrativas e qualificá-
lo técnica e esteticamente.
e) trazer informações para o público leitor da revista acerca da história dos parques da Disney e do seu fundador, e
também anunciar o lançamento do filme Tomorrowland.
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Resposta:
d) fazer a análise crítica de um objeto cultural (um filme), de modo a destacar suas características narrativas e qualificá-lo técnica e esteticamente.
Explicação:
Uma análise crítica de um objeto cultural costuma apresentar pontos relevantes acerca do assunto, passando uma opinião de confiança para o interlocutor, argumentando e defendendo um ponto de vista com ideias claras e concisas.
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Espero ter ajudado. Bons estudos!
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