Em casa, brincava de missa, – um tanto às escondidas, porque minha mãe dizia que missa não era cousa de brincadeira. Arranjávamos um altar, Capitu e eu. Ela servia de sacristão, e alterávamos o ritual, no sentido de dividirmos a hóstia entre nós; a hóstia era sempre um doce. No tempo em que brincávamos assim, era muito comum ouvir à minha vizinha: “Hoje há missa?” Eu já sabia o que isto queria dizer, respondia afirmativamente, e ia pedir hóstia por outro nome. Voltava com ela, arranjávamos o altar, engrolávamos o latim e precipitávamos as cerimônias. Dominus non sum dignus...∗ Isto, que eu devia dizer três vezes, penso que só dizia uma, tal era a gulodice do padre e do sacristão. Não bebíamos vinho nem água; não tínhamos o primeiro, e a segunda viria tirar-nos o gosto do sacrifício. (ASSIS, Machado de. Dom Casmurro: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.)
∗Trecho da fala do sacerdote, no momento da comunhão, que era proferida em latim, antes do Concílio Vaticano II. A fala inteira, que deve ser repetida três vezes, é: Dominus non sum dignus ut intres sub tectum meum, sed tantum dic verbum e sanabitur anima mea, cuja tradução é: Senhor, não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e minha alma será salva.
Sobre esse trecho de Dom Casmurro, pode-se dizer que:
apresenta diálogos indiretos entre as personagens.
quatro pessoas brincavam de missa: Capitu, o narrador, um sacristão e um padre.
o ambiente da ação é uma igreja católica.
revela a intromissão de vizinhos na vida das crianças.
é um exemplo do uso criativo e não meramente ornamental da metáfora.
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é um exemplo de uso criativo e nao mera mente ornamental da metáfora (x) espero ter ajudado
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A) apresenta diálogos indiretos entre as personagens
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