Eliana Maria Lemos*
A musa do verão brasileiro já não é mais a “Garota de Ipanema”, e sim uma tal de Jenifer que um cara conheceu no Tinder. A moça em questão não é namorada dele e, talvez por isso, imagino que não inspirou nenhum verso mais elaborado como: “Moça do corpo dourado, do Sol de Ipanema, o seu balançado é mais que um poema, é a coisa mais linda que já vi passar (…)”; muito pelo contrário [...].
Criada por Tom Jobim e Vinicius de Moraes, faz quase 60 anos, a canção Garota de Ipanema não foi um hit de um único verão, é uma obra-prima da bossa nova. A obra-prima já foi gravada em diversos idiomas por cantores do mundo inteiro, como Frank Sinatra, por exemplo. Virou um símbolo da MPB de excelentíssima qualidade. Um cartão de visita dos poetas brasileiros, de uma época em que se fazia música e letra. Quando, mesmo os compositores mais marginalizados ou considerados bregas, tinham algo a dizer e sabiam como fazê-lo.
Se olharmos para trás, na história da música brasileira, em todos os seus gêneros, vamos constatar o óbvio: muito se perdeu em qualidade e criatividade nas duas últimas décadas. A impressão que eu tenho é de que tudo que deveria ser criado, em termos de qualidade no cenário musical, foi feito antes dos anos 2000. Pelo menos no que se refere ao que está sendo tocado nos meios de comunicação do País. É claro que toda regra tem exceções e, vez ou outra, muito raramente até, aparecem algumas músicas que compensam a gente dedicar o tempo a ouvi-las.
No geral, o que tem feito sucesso nas duas últimas décadas são hits completamente descartáveis. A indústria fonográfica só investe em “porcarias” e há uma padronização em alguns gêneros que enjoa. É o coletivo se sobrepondo ao individual. [...]
As letras que outrora tinham profundeza como: “Este é o exemplo da vida / Para quem não quer compreender / Nós devemos ser o que somos / Ter aquilo que bem merecer”; hoje são rasas como: “Eu quero tchu, eu quero tchá / Eu quero tchu tchá tchá tchu tchu tchá / Tchu tchá tchá tchu tchu tchá”, ou coisa parecida. [...]
A efervescência musical ocorrida nas décadas de 1960, 1970 e 1980 praticamente não aparece mais. Digo isso, porque acredito que, sim, nós temos ainda muita gente talentosa fazendo música boa no Brasil, só que, infelizmente, essas pessoas não estão em evidência. Não há preocupação e vontade da indústria de encontrar e investir nesses artistas.
Nos anos 1960, 1970 e 1980, os festivais de música, promovidos por redes de rádios e televisões, possibilitaram que muitos talentos fossem revelados, entre eles Elis Regina, Chico Buarque, Edu Lobo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Alceu Valença. Essas competições foram, durante muito tempo, uma grande janela para cantores e compositores da MPB. Mas, com o tempo, foram diminuindo e praticamente acabaram. Atualmente são poucas e em sua maioria acontecem na internet, sem atingir o grande público. Por outro lado, é através da mesma internet que alguns novos cantores têm conseguido a visibilidade necessária para chamar a atenção de produtores musicais.
Nos últimos anos, os reality shows musicais, como The Voice Brasil (apresentado atualmente na Rede Globo em versões adulto e infantil), Fama, Ídolos, entre outros, são a esperança de muitos cantores brasileiros de saírem do anonimato e alcançarem o sucesso. Porém, não sei qual é o mistério que faz com que poucos ganhadores consigam permanecer na mídia. Talvez seja a qualidade do que produzem.
* A autora é jornalista, roteirista, escritora, pesquisadora do Instituto Ipsos e articulista exclusiva do Jornal Correio9.
Após a leitura do Texto 1, o artigo de opinião, é CORRETO afirmar que a autora defende que
Soluções para a tarefa
Respondido por
2
me desculpa porque eu não sei qual que é mesmo se eu soubesse eu falaria
vbezerra938:
vou botar as questoes
Perguntas interessantes