Eça de Queirós publica, em 1874, o conto Singularidades de uma rapariga loura, dando início a sua fase Realista.
A seguir leia um trecho do conto:
Era isto em Setembro: já as noites vinham mais cedo, com uma friagem fina e seca e uma escuridão aparatosa. Eu tinha descido da diligência, fatigado, esfomeado, tiritando, num cobrejão de listas escarlates. Vinha de atravessar a serra e os seus aspectos pardos e desertos. Eram oito horas da noite. Os céus estavam pesados e sujos. E, ou fosse um certo adormecimento cerebral produzido pelo rolar monótono da diligência, ou fosse a debilidade nervosa da fadiga, ou a influência da paisagem descarpada e chata, sob o côncavo silêncio nocturno, ou a opressão da electricidade, que enchia as alturas – o facto é – que eu, que sou naturalmente positivo e realista – tinha vindo tiranizado, pela imaginação e pelas quimeras. Existe, no fundo de cada um de nós, é certo – tão friamente educados que sejamos –, um resto de misticismo; e basta às vezes uma paisagem soturna, o velho muro de um cemitério, um ermo ascético, as emolientes brancuras de um luar – para que esse fundo místico suba, se alargue como um nevoeiro, encha a alma, a sensação e a ideia, e fique assim o mais matemático, ou o mais crítico – tão triste, tão visionário, tão idealista –, como um velho monge poeta . A mim, o que me lançara na quimera e no sonho, fora o aspecto do Mosteiro de Rostelo, que eu tinha visto, na claridade suave e outonal da tarde, na sua doce colina.
[...]
Mas por esse tempo veio morar para defronte do armazém dos Macários, para um terceiro andar, uma mulher de quarenta anos, vestida de luto, uma pele branca e baça, o busto bem feito e redondo, e um aspecto desejável. Macário tinha a sua carteira no primeiro andar por cima do armazém, ao pé de uma varanda, e dali viu uma manhã aquela mulher com o cabelo preto solto e anelado, um chambre branco e braços nus, chegar-se a uma pequena janela de peitoril, a sacudir um vestido. Macário afirmou-se, e sem mais intenção dizia mentalmente aquela mulher aos vinte anos devia ter sido uma pessoa cativante e cheia de domínio: porque os seus cabelos violentos e ásperos, o sobrolho espesso, o lábio forte, o perfil aquilino e firme, revelavam um temperamento activo, e imaginações apaixonadas. No entanto, continuou serenamente alinhando as suas cifras. Mas à noite estava sentado fumando à janela do seu quarto que abria sobre o pátio: era em Julho e a atmosfera estava eléctrica e amorosa: a rebeca de um vizinho gemia uma xácara mourisca, que então sensibilizava, e era de um melodrama; o quarto estava numa penumbra doce e cheia de mistério – e Macário, que estava em chinelas, começou a lembrar-se daqueles cabelos negros e fortes e daqueles braços que tinham a cor dos mármores pálidos: espreguiçou-se, rolou morbidamente a cabeça pelas costas da cadeira de vime, como os gatos sensíveis que se esfregam, e decidiu bocejando que a sua vida era monótona.
[...]
No trecho acima, vemos uma característica de escrita, que faz parte da estética Realista. Assinale a alternativa que apresente tal característica.
Alternativa 1:
Narração objetiva, descrição minuciosa e mostra psicológico dos personagens.
Alternativa 2:
Narração subbjetiva, descrição minuciosa e mostra psicológico dos personagens.
Alternativa 3:
Narração objetiva, pouca descrição e mostra psicológico dos personagens.
Alternativa 4:
Narração objetiva, descrição minuciosa e mostra somente de características físicas dos personagens, ignorando o psicológico.
Alternativa 5:
Narração subjetiva, descrição minuciosa e mostra somente de características físicas dos personagens, ignorando o psicológico.
Soluções para a tarefa
Respondido por
2
estou na dúvida, mas acho que é a alternativa 1
Respondido por
2
linguagem objetiva e mostra o psicológico dos personagens, porém fiquei em dúvida quanto ao minucioso. Marquei a 1.
LucianiMoraes2:
Alternativa 1, página 78 do livro didático.
Perguntas interessantes