É um assalto!1 – É um assalto! – grita o avô, e os netos pegam as armas, mas o avô continua lendo o jornal na varanda e o cachorro boceja, a meninada se acalma. Mas logo o avô grita de novo:– É um verdadeiro assalto! – e de novo os netos param de brincar e pegam as armas de plástico,esperando os assaltantes, mas o cachorro se coça e volta a cochilar. Então um dos netos, mesmo sabendo 5 que a leitura do jornal é sagrada, arrisca:– Mas que assalto, vô?O velho avermelha de raiva:– Que assalto?! Esse assalto! – apontando a lâmpada. – Aumentaram de novo a energia!Os netos olham esperando explicações, ele dobra o jornal e suspira fundo.10 – Vocês sabem da onde vem a energia?Agora é um dos netos que boceja, esperando as histórias do avô.– A energia vem da natureza e do povo. Da natureza vem a água dos rios, que enche as represas das usinas. E do povo vem o dinheiro pra construir as represas e as usinas. Depois é só deixar a água da represa passar pela usina, fazendo girar as turbinas, e pronto, a energia sai pelos fios e vem pra casa da gente. Só15 que, mesmo depois de construídas as usinas, eles continuam cobrando mais da gente, mais e mais, aumento depois de aumento!– Mas quem são eles, vô?O avô fica pensando, até que explode amargo:– Eles são os políticos, os assessores dos políticos, os burocratas do sistema!20 – Que que é político, vô?– E assessor? E burocrata?– Sistema eu sei o que é, vô.– É? E o que é?– É quando a gente ganha nota baixa e a mãe vai reclamar na escola, aí a professora diz que é o25 sistema que tá errado. Tem que mudar o sistema, né, vô?É, o avô concorda, é preciso mudar o sistema:– Inclusive o povo, é preciso mudar esse povo acomodado, corrupto e covarde, que se deixa explorar desse jeito, quieto que nem cordeiro, um povinho que merece os governos que tem!O avô bate as mãos nos braços da poltrona, o cachorro acorda, dá uma olhada, volta a cochilar.30 Com os revólveres nas mãos, os netos olham o avô bufando bravo, até que um pergunta:– E como faz pra mudar o povo, vô?Outro fala superior:– Bota outro povo no lugar, seu tonto!– E onde vai achar outro povo? Tonto é você!35 O vô diz que não é má ideia:– A gente pegava um pouco de povo da Alemanha, desde que não entrassem em guerra nemfossem racistas, mais um pouco do povo da Inglaterra, desde que não fossem esnobes e... Deixa pra lá, opovo da gente é esse aí e a gente faz parte dele, esse é o problema.– Por que, vô?40 – Porque eu mesmo, por exemplo, em vez de ficar aqui reclamando, devia fazer alguma coisa, maso quê? Viver no escuro? E mesmo assim logo iam inventar uma taxa de escuridão... Na água tem taxamínima, sabiam? É, você gaste ou não gaste água, tem de pagar, é um assalto. São os assaltantes do sistema!Dá vontade de nem sei o quê!Os netos se olham, enchem o peito e correm pela varanda e pelo jardim disparando e gritando45 toma, assaltante, toma, assaltante, toma! – e, enquanto os assaltantes tomam dezenas de tiros, o avô sorri dizendo baixinho pelo menos isso, né, pelo menos isso.PELLEGRINI, Domingos. Ladrão que rouba ladrão. São Paulo: Editora Ática, 2002, p. 71-73.Ocorre o registro de linguagem figurada em: * a) “— Mas que assalto, vô?” (linha 6) b) “Agora é um dos netos que boceja, esperando as histórias do avô.” (linha 11) c) “— Eles são os políticos, os assessores dos políticos, os burocratas do sistema!” (linha 19) d) “É, o avô concorda, é preciso mudar o sistema: [...]” (linha 26) e) “[...] povo [...] quieto que nem cordeiro, [...]” (linhas 27 e 28)
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Resposta:
A linguagem figurada é aquela pela qual uma palavra exprime uma ideia recorrendo a outros termos, apelando assim a uma semelhança, seja esta real ou imaginária.
Ocorre o registro de linguagem figurada em:
e) “[...] povo [...] quieto que nem cordeiro, [...]” (linhas 27 e 28)
Espero ter te ajudado!!!
cleuzafigueredo1:
obrigado!
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