"É pra copiar?”
(texto adaptado)
Já faz sete meses que não escuto um dos meus jovens alunos/as perguntar: “É pra copiar?”, quando durante uma aula, tem matéria escrita no quadro. Ou aquela já famosa e detestada interrogação, “vale ponto?” ou ainda a indagação, “vai dar visto nesse exercício?”. Também há a dúvida “pode ser em trio?”, quando instrui os alunos a formarem duplas. Às vezes, um aluno/a me pergunta: “E aí, professora, já fez chamada?”, mesmo eu sempre fazendo no final da aula. Faz tempo que não escuto um “poxa, professora, libera a gente mais cedo!” em plena sexta-feira. Trinta e cinco semanas que não ouço ninguém reclamar que fez o trabalho, mas tá sem nota no sistema, nem protestar contra trabalhos em grupo, argumentando que preferia fazer sozinho. Essas pequenas interações que temos com os estudantes têm feito muita falta no meu cotidiano. E falo isso plenamente consciente que reclamo de tudo isso. Não raro, respondo essas perguntas com impaciência. Desculpem por isso.
Meses que não repito várias vezes a mesma explicação; que não planejo Kahootear, só para revisar o capítulo; que não escrevo a data no quadro; que não rio com respostas inusitadas para perguntas que achei que eram óbvias; que não entro na sala errada porque é impossível não errar dando aula em tantas salas diferentes, para tantas turmas diferentes; que não peço ajuda para montar o projetor; que não chamo de Gabriel alguém que se chama Pedro porque afinal eu tenho uns 10 alunos com esses nomes; que olho para Fernanda e penso que ela se parece muito com a Natália , da 802, será que são irmãs?
Sete meses que a gente não abraça aqueles ex-alunos queridos quando nos encontramos no pátio, na quadra, nos corredores durante o entardecer. E tem sempre uns que a gente vê, nos dão um sorriso, e soltam um: “E aí, prof?”, e nem sempre a gente recorda quando aquela pessoa esteve sentada nas carteiras das nossas salas. De que turma ele era mesmo? Caramba, eu vi esse menino tímido e baixinho, agora já está se formando! Tenho uma foto com ele no sexto ano! Eu vi essa garota introvertida e quieta virar representante de turma, artista, ativista, Quanto mais tempo na mesma escola, mais a gente fala essas coisas, afirmamos nossa surpresa diante da constatação que o tempo passa, que os alunos e alunas crescem, florescem, vão embora.
Sei que etimologicamente a palavra aluno poderia ser traduzida como “sem luz” e que nós, professores, os supostos detentores do conhecimento deveríamos acender um fósforo, fazer a fogueira e iluminar seus caminhos. A ironia é que na verdade são eles que iluminam nossos dias, são os que nos instigam, motivam e confrontam. Suas críticas muitas vezes são sacudidas necessárias, que nos fazem perceber e retificar nossos equívocos. Sua admiração nos faz querer ser educadores cada vez melhores e muitas vezes nos resgatam das garras da dúvida sobre nossa própria competência. Não tem interação à distância, qualquer que seja a ferramenta, aplicativo ou plataforma, que seja o bastante para suprir essas ausências porque sem eles, nós estamos na escuridão, girassóis na noite infindável."
Alice Pereira
Pergunta 1: A crônica "É pra copiar?" retrata: *
o tédio da prática docente.
o cotidiano de uma professora.
a dificuldade do ensino virtual durante a quarentena.
a saudade gerada pelo isolamento social.
a insatisfação diante do cenário educacional.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
A saudade gerada pelo isolamento social
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Resposta:Saudade pelo o isolamento social
Explicação:Vc ia ficar triste
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