É possível superar o autoritarismo?
No passado, a elite cultural latino-americano registrou frequentemente a força
do patrimonialismo e a ineficácia da liberal-democracia. Sem negar ambas as
tendências, eu penso que a consciência critica da situação deve levar as analises mais
longe. É preciso meditar não apenas sobre o processo político tal qual ele ocorre, mas
sobre como nos parece que ele deve vir a ser. Dessa forma, a identificação de forças
virtuais de inconformismo com respeito à tendência “natural” ao burocratismo e a
apatia, especialmente entre as massas urbanas, e a reafirmação de ideais capazes de
contraporem-se ao rolo compressor da “falta de tradução urbana” ou da “tendência ao
compromisso” torna-se essencial para uma possível dinamização da vida política. A
ativação da sociedade urbano-industrial requer, mais do que nada, a substituição da
ideologia do compromisso por outra que rotinize o conflito e que permita legitimar
socialmente a ideia de que sem movimento, luta e tensão será impossível fazer uma
genuína transformação política. Para que as transformações sociais não se estiolem numa pseudo-reforma das
estruturas controladas por elites que se pensam iluminadas pela técnica e pela ciência (
risco inerente às “reformas burguesas”, mas não ausente nas reformas socialistas) é
preciso que “nossa revolução” venha de baixo, como há quase 40 anos dizia um escritor
brasileiro ao fazer a critica ao fascismo nascente daquela época.
Sem a reativação das bases populares e sem uma ideologia antiburocrática
baseada na responsabilidade individual e na consciência das necessidades sociais, o
salto do patrimonialismo ao corporativismo tecnocrático pode levar os povos latino-
americanos a reviver na “selva das cidades” a barbárie tão temida pelos socialistas do
século XIX. Se não houver a reativação da sociedade por meio de vigorosos
movimentos sociais, forçando a participação política e a definição de novas formas de
controle das empresas, das cidades, do Estado e das instituições sociais básicas, há o
risco da criação de um horroroso mundo novo que substituirá a cidade – antigo foro da
liberdade –por “Alphavilles” plenamente aparelhados, através da tecnologia das
comunicações de massa e da apatia, para reproduzir um estilo de “sociedade
congelada”.
(Fernando Henrique Cardoso. Autoritarismo e democratização. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1975. p. 162-3)
Questão: Segundo o autor, onde se situam as forças que poderiam derrotar o autoritarismo?
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Soluções para a tarefa
Para o autor, as forças que poderiam derrotar o autoritarismo se encontram nas bases populares, na sociedade, nos movimentos sociais.
Veja abaixo alguns trechos que confirmam isso:
" Sem a reativação das bases populares e sem uma ideologia antiburocrática [...]".
"Se não houver a reativação da sociedade por meio de vigorosos movimentos sociais [...]".
O autor acredita que a força está nas bases populares, que não devem ficar apáticas e aceitarem tudo o que for imposto. Ele acredita que a sociedade, quando insatisfeita, precisa demonstrar seu inconformismo, tomando como base a responsabilidade individual e a consciência das necessidades sociais.
Espero ter ajudado!
Resposta:
O autor acredita que a mudança venha de baixo, que as bases populares sejam
reavivadas e baseadas na responsabilidade individual e na consciência das
necessidades sociais e coletivas. Se não houver a reativação da sociedade por meio
de vigorosos movimentos sociais, forçando a participação política e a definição de
novas formas de controle das empresas, das cidades, do Estado e das instituições
sociais básicas, há o risco da criação de um horroroso mundo novo que substituirá
a cidade – antigo foro da liberdade – por “Alphavilles” plenamente aparelhados,
através da tecnologia das comunicações de massa e da apatia, para reproduzir um
estilo de “sociedade congelada”.: