Do passado & do futuro misturados nas ruas de Ilhéus
As chuvas prolongadas haviam transformado estradas e ruas em lamaçais [. ]. A própria estrada de rodagem, recentemente inaugurada, ligando Ilhéus a Itabuna, onde trafegavam caminhões e marinetes¹, ficara, em certo momento, quase intransitável [. ]. Jacob e seu sócio, o jovem Moacir Estrela, dono de uma garagem, haviam raspado um susto. Antes da chegada das chuvas organizaram uma empresa de transportes para explorar a ligação rodoviária entre as duas principais cidades do cacau, encomendaram quatro pequenos ônibus no sul. A viagem por estrada de ferro durava três horas quando não havia atraso, pela estrada de rodagem podia ser feita em hora e meia. [. ] Jacob possuía caminhões, transportava cacau de Itabuna para Ilhéus. Moacir Estrela montara uma garagem no centro, também ele labutava com caminhões. Juntaram suas forças, levantaram capital num banco, assinando duplicatas, mandaram buscar as marinetes. Esfregavam as mãos na expectativa de negócio rendoso. [. ]
Com a diminuição das chuvas o rio baixara, Jacob e Moacir, apesar do tempo continuar ruim, mandaram consertar por conta própria uns pontilhões, botaram pedras nos trechos mais escorregadios, e iniciaram o serviço. [. ] A viagem durou duas horas – a estrada ainda estava muito difícil – mas correu sem incidente de maior monta. Em Itabuna, à chegada, houve foguetório e almoço comemorativo. [. ] Jacob anunciara então, para o fim da primeira quinzena de viagens regulares, um grande jantar em Ilhéus, reunindo personalidades dos dois municípios, para festejar mais aquele marco do progresso local. [. ]
*Vocabulário:
¹marinete: ônibus
AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. Fragmento. Texto 2
Sorôco, sua mãe, sua filha
Aquele carro parara na linha de resguardo, desde a véspera, tinha vindo com o expresso do Rio, e estava lá, no desvio de dentro, na esplanada da estação. Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente reparando, notava as diferenças. [. ] O trem do sertão passava às 12h45m. As muitas pessoas já estavam de ajuntamento, em beira do carro, para esperar. As pessoas [. ] conversavam, cada um porfiando no falar com sensatez, como sabendo mais do que os outros a prática do acontecer das coisas. Sempre chegava mais povo – o movimento. Aquilo quase no fim da esplanada, do lado do curral de embarque de bois, antes da guarita do guarda-chaves, perto dos empilhados de lenha. Sorôco ia trazer as duas, conforme. A mãe de Sorôco era de idade, com para mais de uns setenta. A filha, ele só tinha aquela. [. ]
A hora era de muito sol – o povo caçava jeito de ficarem debaixo da sombra das árvores de cedro. [. ] Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. [. ]
Rosa, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Fragmento
Esses textos são parecidos pois
afirmam que a história se passa em um dia de sol. Citam um grande jantar reunindo personalidades. Contam que uma chuva trouxe problemas para a estrada. Mencionam o esforço feito para compra de marinetes. Tratam do transporte de pessoas de uma cidade para outra
Soluções para a tarefa
Resposta:
d
Explicação:
Ambos os textos "tratam do transporte de pessoas de uma cidade para outra", sendo que "Gabriela, cravo e canela", de Jorge Amado, mostra o empreendedorismo e investimento no transporte rodoviário no interior da Bahia.
Já "Primeiras estórias", de João Guimarães Rosa, relata de forma poética as dificuldades para uma viagem de trem para uma família no interior de Minas Gerais. São estórias que revelam um pouco da história do Brasil.
Grandes contadores de estórias
O texto de Jorge Amado narra as dificuldades de Jacob e Moacir para iniciar um negócio de transporte de passageiros entre Ilhéus e Itabuna, enfrentando a falta de estrutura e utilizando contatos políticos para chamar a atenção da população. Ele traz para vida de seus personagens situações comuns na vida de empreendedores e faz isso de forma leve.
Enquanto no texto de João Guimarães Rosa é mostrada de forma quase poética a dificuldade de pessoas e famílias mais pobres para conseguir transitar entre cidades, aguentando sol forte e grandes grupos de pessoas em pequenos espaços.
A interpretação de textos é fundamental para retirar sentido e compreender as estórias por detrás de fatos e informações apresentados de diferentes maneiras. Mais do que falar sobre o transporte de pessoas entre cidades, Jorge Amado e Guimarães Rosa mostram um pouco da história e da cultura do Brasil.
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