Discutindo Literatura (DL) — Tendo vivido em Moçambique,
a questão do racismo foi importante para você em sua literatura?
Mia Couto (MC) — Sim, com certeza. A cidade onde eu nasci é
um lugar onde a discriminação racial é muito grande. Era tanta
que na minha adolescência não precisaram explicar para mim o
que era a colonização, por exemplo, pois eu sentia na pele o que
era o colonialismo. Isso me fez ter uma atitude de engajamento
político muito cedo na minha vida.
DL — Há uma literatura tipicamente africana?
MC — Não sei exatamente o que seria uma literatura tipicamente
africana. O escritor africano, ao contrário do europeu ou do
americano, precisava quase sempre prestar provas de
autenticidade. Havia quase um olhar de que aquilo seria um
artesanato e não uma arte que se pretendesse universal, fora de seu
tempo e lugar. A necessidade de pertencer a um contexto histórico
e étnico prejudicou em muito a dinâmica da literatura africana.
Mas hoje há autores que vão além dessa limitação e estão fazendo
literatura. Ponto final. Não tem que ser literatura africana ou
tipicamente qualquer coisa.
Considerando as ideias do texto acima, julgue, assinalando C (certo) ou E (errado), os itens a seguir:
A) Infere-se do texto que, de acordo com Mia Couto, há profunda relação entre discriminação racial e colonialismo.
b) De acordo com Mia Couto, seu precoce engajamento político levou-o a perceber a existência do racismo em Moçambique e a denunciá-la em sua literatura.
c) Infere-se do texto que, para Mia Couto, os escritores africanos são mais autênticos que os europeus e americanos.
d)Ao afirmar que a literatura produzida pelos escritores africanos era vista como "um artesanato", Mia Couto recusa a visão exótica da literatura produzida na África.
e) Considerando as opiniões de Mia Couto acerca do caráter típico da literatura africana, é correto inferir que um dos dilemas vividos por essa literatura foi a necessidade de ser local e, ao mesmo tempo, universal.
Soluções para a tarefa
Assinalando C (certo) ou E (errado), temos:
a) (C) - Ele diz que a cidade onde nasceu tinha uma discriminação racial tão forte que nem foi preciso que lhe explicassem o que era colonialismo, pois o sentia na pele.
b) (E) - Na verdade, foi o contrário: a sua percepção sobre o racismo presente em Moçambique foi o que o levou ao seu engajamento político.
c) (E) - Na verdade, Mia afirma que "O escritor africano, ao contrário do europeu ou do americano, precisava quase sempre prestar provas de autenticidade.". Portanto, ele não julga a autenticidade dos escritores europeus e americanos, e sim reconhece que os escritores africanos precisavam provar o tempo todo que tinha essa qualidade.
d) (C) - Mia recusa a visão exótica da literatura africana, pois critica o fato de a literatura produzida na África ser vista como um artesanato. Para ele, era uma arte que se pretendia universal.
e) (C) - A literatura africana era vista como um artesanato, por pertencer a um contexto histórico e étnico, e não uma literatura universal, fora de seu tempo e lugar.
f) (E) - Na verdade, Mia é contrário a essa rotulação. Ele não defende o abandono desse tipo de literatura, mas apenas reconhece que atualmente há escritores que fogem desse estilo, produzindo uma literatura universal, que não está presa contexto histórico e étnico africanos.