Devo acreditar na minha mãe quando ela me diz que não posso ser filósofo?
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Resposta:
Debate Filosófico: A minha mãe diz-me que não posso ser filósofa.
A partir de um comentário que a mãe de uma aluna lhe lançou em casa iniciou-se uma discussão em torno das questões da validade e da certeza das nossas opiniões, assim como do valor da filosofia.
Os resultados foram surpreendentes para miúdos que "não podem ser filósofos."
- A minha mãe diz-me que não posso ser filósofa porque não penso nas coisas e não tenho opiniões válidas.
Foi esta a afirmação da Maria João, 13 anos, no início da sessão e que serviu de mote à nossa discussão.
A pergunta sugerida à turma foi a seguinte:
- Devo acreditar na minha mãe quando ela me diz que não tenho opiniões válidas?
- Sim, porque mesmo que as nossas opiniões sejam certas não sabemos se estão certas porque somos crianças. Por isso não são válidas. (Tomás)
- Mas opiniões válidas são opiniões certas. (Hugo)
- Não, opiniões válidas são certas e com uma justificação. (Tomás)
- Pode haver opiniões certas e sem justificação, e mesmo assim são válidas. (Ricardo)
- Dá um exemplo. (Moderador)
- Se entrasse aqui um extraterrestre e dissesse que esta porta é uma porta mas não o soubesse justificar, a sua opinião estava certa sem estar justificada. Por isso era válida. (Ricardo)
- O que são opiniões válidas? (Moderador)
- São opiniões certas para as pessoa,s que podem depois mudar de ideias, como aconteceu com o modelo geocêntrico. Era válido pois eram certas para elas, mas depois mudaram de opinião. (Ricardo)
- Opiniões válidas são certas. (Hugo)
- Opiniões válidas são opiniões justificadas. Podem não estar certas. (Ricardo)
[Nesta altura tentei dirigir a reflexão em direcção à noção de verdade através da pergunta:
"Que nome se dá a uma opinião certa e justificada?"
O conceito de verdade permitiria articular os conceitos de certeza e validade através do conceito de opinião verdadeira. No entanto a turma preferiu avançar noutra direcção. Era uma turma de alunos com13 anos e para muitos, se não para todos, era a primeira vez que discutiam desta forma livre e civilizada. Uma verdadeira troca de ideias em que todos se ouviam e corrigiam mutuamente, sobre temas novos e interessantes. Acabei por deixá-los seguir a pista da ideia de validade enquanto "algo socialmente aceite". Esta pista acabou por se revelar bastante iluminadora para todos nós.]
- Uma opinião pode ser certa, como a do Galileu, e não ser válida pois ninguém a aceitava. (Afonso)
- As nossas opiniões são válidas se alguém as aceitar.
- A Filosofia procura opiniões válidas ou verdadeiras? (Moderador)
- Verdadeiras! (Todos em uníssono)
- Então não é por não termos opiniões válidas que não podemos ser filósofos. As nossas opiniões podem não ser válidas e, ainda assim, ser verdadeiras. (Pedro)
- Como aconteceu a Galileu. (Ana)
- E a Sócrates. (Tomás)
- Que pergunta fariam a quem vos dissesse que não têm opiniões válidas e por isso não podem ser filósofos? (Moderador)
- Será que essa tua opinião é válida? (Hugo)
- Então, o que é preciso para se ser filósofo? (Moderador)
- Cultura geral; sabedoria; fazer perguntas. (Todos)
- O que é preciso para se fazer perguntas? (Moderador)
- Necessidade; Curiosidade.
- Há mais necessidade na ciência ou na filosofia? (Moderador)
- Na ciência. Há, por exemplo, a necessidade de se encontrar a cura para o cancro. (Pedro)
- E na filosofia? (Moderador)
- Na filosofia há curiosidade. (Daniela)
- Então voltemos à nossa questão inicial: “vocês podem ser filósofos?” (Moderador)
- Sim, porque todos fazemos perguntas, temos interesse e curiosidade. (Pedro)